A força está no som. Essa poderia ser a conclusão mais imediata a partir de um contato inicial com o curta dirigido por Roberto Burd. Mas a produção da gaúcha Organismo Filmes vai além. Partindo do texto de Vera Cardoni, ilustra uma história de perda e resistência, dor e indignação. O protagonista, vivido por Nando Cunha – ator de longo histórico em comédias, visto em longas como Lascados (2014) e programas como Vai Que Cola (2014) – é um pai em pleno momento de angústia. O filho está na lista de espera por um transplante, e nunca se sabe se será o próximo a ser atendido, tamanha é a burocracia e os requisitos a serem respeitados em casos como esse. Torcer pelo garoto é, ao mesmo tempo, desejar o pior para um outro – afinal, alguém precisará abrir mão da própria vida para que a deste seja salva. Burd, assistente de direção de longas como A Oeste do Fim do Mundo (2013) e Nervos de Aço (2016), revela-se aqui econômico nas palavras, mas forte nas imagens que constrói a partir de uma cuidadosa direção de arte, austera e impessoal, mérito de Valeria Verba, e uma montagem precisa, de Pedro Rocha, além de um impressionante trabalho de edição de som, cortesia do trabalho de Kiko Ferraz e equipe. Assim, impõe-se através destes elementos tudo aquilo que está sendo vivido no interior deste pai partido aos pedaços, disposto a fazer o pior em nome de um amor maior. Condená-lo é fruto da lógica, mas quem, no seu lugar, não ousaria pensar o mesmo? Que atire a primeira pedra, é o que propõe o diretor em um conto que mesmo após seu término se recusa a deixar a memória do espectador.
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