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Sinopse

Em maio de 2003, Aron fazia mais uma escalada nas montanhas de Utah, nos Estados Unidos, quando acabou ficando com seu braço preso em uma fenda. Sua luta pela sobrevivência durante mais de cinco dias (127 horas) foi marcada por memórias e momentos de muita tensão.

Crítica

Danny Boyle é o típico cineasta inquieto, que não gosta de se repetir e que a cada novo filme parece ter redescoberto o prazer em filmar. James Franco, por sua vez, é um ator com as mesmas características, nunca satisfeito em ser apenas mais um rosto bonito na multidão. Quando essas duas forças se encontram, o que temos é 127 Horas, um filme não só surpreendente, mas também digno dos talentos envolvidos. Nas mãos de quaisquer outros certamente teríamos algo que se atolaria nos clichês e na previsibilidade. Mas, no entanto, o que é entregue ao espectador é uma jornada única pela mente de um homem entregue ao destino e à natureza e como a inevitabilidade dos fatos pode ser poderosa, ao mesmo tempo em que mostra o quão imprevisível e arrebatador o ser humano pode se revelar quando a situação exige.

A trama de 127 Horas pode ser resumida em uma única frase: “homem vai sozinho ao deserto e fica preso numa pedra, e para sobreviver precisa cortar o próprio braço”. Ponto final. Não há mais nada além disso. Ou melhor, há muito mais, porém não no campo dos acontecimentos, e sim num roteiro criteriosamente elaborado, em uma direção segura e exigente, numa montagem precisa e muito estudada e, acima de tudo, num intérprete soberbo, que explora algo dentro de si poucas vezes antes vislumbrado. Em menos de 20 minutos de história ele já se encontra preso sob a tal pedra, no meio do deserto de Utah, longe de tudo e de todos, sem ter avisado uma só alma – os amigos, a família, a namorada – para onde estava indo. Ou seja, ninguém irá aparecer por acaso para salvá-lo. Ele se colocou sozinho naquela posição, e desde o princípio fica muito claro que não espera uma ajuda aleatória e nem um milagre dos céus. Com seus próprios pés foi até ali, e só caberá a ele mesmo sair vivo dessa enrascada.

127 Horas tinha tudo para ser um filme chato, tedioso, óbvio. Por mais incrível que possa parecer, entretanto, é tudo menos isso. Seu dinamismo é contagiante, e a energia do protagonista ilumina os dois lados da tela. Somos conduzidos por sua emoção, seu bom humor, sua vontade, e se há pena, há também deslumbre, reconhecimento e respeito. Esse é um homem dono de si, que responde por seus atos e não teme os acontecimentos. Que vive, e não fica sentado esperando a vida passar. E se há percalços – e com certeza eles sempre existem – há também muito a ser celebrado. Por mais dolorido que seja o caminho até a vitória final.

James Franco não só interpreta o personagem principal – e quase único em todo o filme – mas lhe confere uma vivacidade única e arrebatadora. Há cenas fortes – existem registros de espectadores que teriam desmaiado ou passado mal em certas sequências – mas qualquer resultado aquém disso frustraria nossas expectativas. Ainda mais quando partimos do princípio que esta é uma história real, que aconteceu de fato a um homem, e que este sobreviveu para contar. As indicações ao Oscar – um total de 6, inclusive para Melhor Filme e Ator – são absolutamente justas, e num cenário mais ousado e desprendido de amarras e normas já envelhecidas, certamente seriam recompensadas. Provavelmente, não será o caso. Mas esta não é uma obra que pede aplausos, e sim reflexão. Afinal, as pedras – físicas ou psicológicas – estão por todos os lados. Como as superamos é que faz toda a diferença.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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