A Boa Esposa
-
Mirjana Karanovic
-
Dobra Zena
-
2016
-
Sérvia / Bósnia e Herzegovina / Croácia
Crítica
Leitores
Sinopse
Crítica
Poucos são os exemplos de filmes dirigidos, roteirizados, produzidos e estrelados pela mesma pessoa, que dirá uma mulher. A indústria cinematográfica é tão centrada nas figuras masculinas que raras vezes destacou talentos femininos numa amplitude dessas. Aconteceu recentemente com Natalie Portman, no razoável e emotivo De Amor e Trevas (2015), e se repete, um pouco mais longe, na Sérvia, com a realizadora Mirjana Karanovic, neste A Boa Esposa.
Com uma trama feminina, de teor sócio-político, Karanovic trata da história de Milena, que ela própria interpreta de maneira estupenda. A personagem simboliza a esposa perfeita para aqueles que ainda acreditam em um universo patriarcal. É bonita, gentil, dona-de-casa e serve ao marido e aos filhos sempre com entusiasmo. Porém, já na sua meia-idade, acaba vivendo à sombra da família, principalmente do esposo, um ex-soldado do exército sérvio. Num dos momentos em que faz a limpeza da grandiosa e luxuosa casa em que vive, ela encontra a fita VHS de uma filmagem caseira. Relembra, então, os bons tempos de uma confraternização com os filhos agora adultos, quando estes ainda eram crianças. Para sua surpresa, está ali também o registro do marido e de alguns amigos torturando e executando civis.
É a partir desse momento impactante que o mundo anteriormente intocável e perfeito de Milena se esvai. Ela se depara com o fato de ter vivido uma relação permeada por mentiras e omissões. Seu marido gentil e generoso não é bem o que aparenta. Com as ameaças que aos poucos ele recebe de ex-colegas, ela logo testemunha rompantes de irascibilidade e crueldade. Karanovic investe no teor das descobertas da personagem, não somente no que diz respeito a esse universo externo, mas também no que tange ao seu corpo. Durante um exame de rotina em sua ginecologista, são detectados alguns caroços em seus seios – os quais são destacados logo na abertura em uma belíssima cena frente ao espelho. Outra suspeita se instala. Estaria Milena com câncer de mama? Como lidar com mais esse momento inesperado?
Entre o medo do preconceito quanto à doença e também a relutância em realizar os exames, aos poucos Mirjana constrói seu filme como uma forma de sua protagonista tirar desses eventos negativos e decepcionantes forças para renovar sua vida. O dilema de denunciar ou não o marido para os órgãos competentes que investigam torturas ocorridas durante a guerra é uma constante durante a projeção. Talvez por isso, A Boa Esposa pareça arrastado e um pouco morno, já que as catarses necessárias e esperadas não se revelam. Milena é exageradamente controlada, mesmo quando os personagens ao seu redor se rebelam. O resultado fica aquém das expectativas devido a uma premissa tão grandiosa quanto resoluta de maneira simplória. Vale, então, pela multifacetada realizadora que, frente às câmeras, entrega uma personagem especial e que reverbera não somente na Sérvia, mas em outros países.
Últimos artigos deRenato Cabral (Ver Tudo)
- Porto: Uma História de Amor - 20 de janeiro de 2019
- Antes o Tempo Não Acabava - 25 de novembro de 2017
- Docinho da América - 3 de janeiro de 2017
Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Renato Cabral | 5 |
Ailton Monteiro | 6 |
MÉDIA | 5.5 |
Deixe um comentário