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Crítica


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Sinopse

Após se recuperar dos ataques sofridos, o Dr. Frankenstein vai ser coagido a criar uma companheira para a criatura que continua fugindo da sanha assassina de quem o considera uma abominação.

Crítica

Sequência do clássico de 1931, A Noiva de Frankenstein marca a reunião do diretor James Whale com suas criaturas mais famosas: o Frankenstein de Colin Clive e o monstro de Boris Karloff. Tão icônico quanto seu antecessor – capaz de imortalizar a figura da noiva (Elsa Lanchester) mesmo com pouquíssimo tempo em cena – o filme tem um tom razoavelmente mais leve em relação ao primeiro, pendendo até para a comédia em alguns momentos. O maior triunfo, entretanto, está na mudança do foco de criador para criatura; há um evidente esforço de explorar mais a fundo o personagem interpretado por Karloff, aproximando-o de sua encarnação literária.

É apropriado, então, que Whale abra a projeção com um prólogo que retrata Mary Shelley (Lanchester interpreta também a autora, além da personagem-título) dando continuidade à sua história para o futuro marido Percy Shelley (Douglas Walton) e o amigo Lord Byron (Gavin Gordon). Depois de uma breve recapitulação, a audiência descobre que Henry Frankenstein e a Criatura sobreviveram ao clímax do filme anterior. Depois de testemunhar os horrores causados por sua criação, Henry perde totalmente o interesse em suas antigas ambições. No entanto, quando o afetado Dr. Pretorius (Ernest Thesiger) entra em cena, o homem tenta persuadir Frankenstein a trabalhar com ele para criar uma versão feminina de seu monstro.

Considerando o desenvolvimento da história, faria pouco sentido narrativo colocar o personagem de Henry de volta à estaca zero, como alguém ambicioso, obcecado pelo trabalho e incapaz de medir as consequências de seus atos. A figura do cientista louco, que Whale ajudou a consolidar no cinema quatro anos antes, aqui divide-se em duas partes: o relutante Henry representa um lado mais sensato e prudente, enquanto Pretorius se mostra totalmente descontrolado, o verdadeiro vilão da trama. A presença deste novo personagem abre, ainda, um paralelo bastante sutil com a obra original. No livro, a história de Frankenstein é contada por meio das cartas do marinheiro Robert Walton, que tem um desejo quase obsessivo de ser o primeiro a chegar ao Polo Norte, colocando em risco não só a própria vida, mas também a de sua tripulação. Quando o personagem descobre a destruição causada pelo protagonista, ele compreende que está seguindo o mesmo caminho e desiste. Já nas telas, há uma inversão: é Frankenstein quem vê o próprio destino na figura de Pretorius, o que motiva sua eventual redenção.

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A criatura, assim como o criador, também recebe chance de se redimir. No primeiro filme, o monstro era essencialmente uma representação dos crimes de Henry, incapaz de se comunicar além de seus grunhidos característicos, causando destruição de maneira errática como um fenômeno da natureza. Aqui, entretanto, há uma preocupação em desenvolver o personagem, que passa a compreender a própria existência e a repulsa que causa nos seres humanos. Com a ajuda de um gentil senhor cego (O.P. Heggie) que é, portanto, imune aos efeitos da aparência horrenda da criatura, o monstro transforma-se numa figura bem mais complexa, com nuances e digna de empatia. Há uma inocência quase infantil na interpretação de Karloff, especialmente quando pronuncia com dificuldade cada nova palavra que aprende com seu único amigo.

É dessa atenção que o roteiro dá ao personagem que depende o desfecho trágico de toda a trama. Se, anteriormente, a mensagem mais clara da história era a de que não cabe ao homem o trabalho de Deus (a criação da vida), neste segundo filme há maior espaço para outras possíveis interpretações, ainda que reforce frequentemente essa moral religiosa. A transformação do monstro numa figura incompreendida ao invés de naturalmente má dá uma dimensão a mais à obra. No lugar de simplesmente culpar Henry por sua ambição ou a Criatura por sua maldade, Whale coloca uma parcela da responsabilidade nas mãos da população da cidade – e as pessoas, de modo geral – por terem rejeitado e marginalizado o monstro.

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Talvez o único deslize deste grande clássico seja a maneira como a personagem-título é utilizada, servindo mais como uma ferramenta para o desenvolvimento da trama do que uma parte real da história. Ainda assim, o saldo é positivo. Mesmo tendo sido lançado há mais de oitenta anos, A Noiva de Frankenstein é um filme excepcional, que envelheceu extraordinariamente bem e, em muitos aspectos, supera seu antecessor.

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cursa Jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo e é editora do blog Cine Brasil.
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