Crítica
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Sinopse
Nader e Simin são casados e divergem sobre as possibilidade de deixar o Irã. Ela pretende migrar ao exterior a fim de dar uma vida melhor à filha do casal. Ele quer continuar ali para cuidar de seu pai que sofre do Mal de Alzheimer. Começa um processo de divórcio.
Crítica
Irã, tempos modernos. Uma mulher deseja se separar do marido. O motivo é bastante simples: a família recebeu o visto para deixar o país, e ela quer ir embora para oferecer à filha melhores possibilidades de estudo e a construção de um futuro mais rico em oportunidades. Ele, no entanto, se recusa em viajar, pois não quer deixar o pai, que possui Alzheimer, sem cuidados. Esse argumento, que seria suficiente para a construção de todo um filme, é disposto antes mesmo do crédito inicial de A Separação, um dos longas mais premiados de 2011 e que chegou ao Oscar na condição de total favorito na categoria de Filme Estrangeiro. Além dessa, disputou a estatueta de Roteiro Original. Reconhecimentos, aliás, absolutamente justos.
Elaborado como numa bola de neve, a trama de A Separação vai crescendo, se desenvolvendo e adquirindo proporções cada vez mais assustadoras a medida em que o tempo passa. Com a recusa do marido em assinar o divórcio, a esposa sai de casa. Ele contrata uma auxiliar, que no primeiro dia de trabalho leva um choque ao descobrir que além de lavar, passar e tirar o pó, terá também que cuidar de um senhor senil e doente. Situações como ter que limpá-lo após ele urinar nas próprias calças e buscá-lo do outro lado da rua quando ele foge de casa num momento de distração dela a levam a desistir do trabalho. Mas há agravantes – o marido desempregado e endividado, a filha pequena e a gravidez de cinco meses que carrega – que a fazem voltar atrás. O problema é que isso leva a uma outra confusão, e, num momento de fúria, patrão e empregada discutem. A briga termina em demissão, que leva ao desespero. A cena piora quando ele a acusa, sem provas, te ter roubado dinheiro da casa. Para se livrar da confusão, a expulsa empurrando-a porta afora. Ela se machuca e perde o bebê. A culpa é dele. Ou não?
Há tanto a ser discutido e observado no roteiro do diretor Asghar Farhadi que o espectador, se não tomar o cuidado de se distanciar, será levado pelo absurdo de todos os acontecimentos e será tomado pelo mesmo sentimento de revolta, injustiça, denúncia, angústia, sofrimento e arrependimento vivenciado pelos personagens. Leila Hatami e Sareh Bayat são as mulheres, a patroa e a empregada. Peyman Maadi e Shahab Hosseini são os homens, os maridos. Os quatro levaram, em conjunto, os prêmios de Melhor Atriz e de Melhor Ator no Festival de Berlim, enquanto que A Separação ficou com o Urso de Ouro de Melhor Filme. E estes marcaram apenas o início dessa jornada de coroações, que contabiliza ainda mais de 15 prêmios da crítica nos Estados Unidos e na Inglaterra, vitórias em festivais na Armênia, Brasil, Austrália, Espanha, Croácia, Índia, África do Sul, Japão e, claro, no próprio Irã. Ganhou ainda o National Board of Review e o Globo de Ouro, ambos como Melhor Filme Estrangeiro. E todos esses aplausos não são o bastante para o tamanho do petardo que esta obra significa.
Quem está certo e quem está errado? Afinal, num mundo tão dividido como o nosso, em que religião, honra e respeito adquiriram conceitos equivocados, ainda é possível responder claramente a questões como essas? Em que momento nos corrompemos? A moral, a ética e a justiça ainda fazem sentido quando passa a importar mais a condição individual de cada um, em detrimento da dos outros? O erro de um justifica o acerto do outro? E aquele que, afinal de contas, está certo, será justificado se ninguém o ouvir? O melhor que um filme como A Separação tem a oferecer ao seu público é justamente o fato de ser construído junto de cada um na plateia. Não é um trabalho fácil – felizmente! É, sim, algo difícil e complicado, assim mesmo como a vida de cada um. É um filme que se constrói junto à percepção do público, e como um bom livro cada um terá sua própria experiência. Bom ou mau, correto ou enganado, preto ou branco: nada é definitivo, com exceção desta incrível aula de cinema, que permanecerá na mente e no coração de cada indivíduo que dela partilhar por muito e muito tempo.
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