Crítica
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Sinopse
Entediada com sua vida pacata, Charlie está desesperada para que algo de interessante aconteça. Quando seu charmoso tio chega, começando logo depois a agir estranho, ela desconfia que ele possa ser um assassino.
Crítica
Na clássica série de entrevistas que François Truffaut realizou com Alfred Hitchcock, o cineasta francês questionou o mestre do suspense sobre qual seria o seu predileto perante toda sua filmografia. A resposta, ainda que evasiva, foi A Sombra de uma Dúvida (1943), provavelmente, um dos longas mais completos do seu currículo. Talvez o que mais agregue alguns de seus assuntos favoritos: a incompetência da polícia, crianças mais adultas que os próprios pais, mocinhas que não são tão indefesas, vilões sedutores e, especialmente, o duplo. Hitchcock apresenta aqui seu duplo a partir de dois personagens com o mesmo nome: Charlie. O tio Charlie (Joseph Cotten) é um criminoso que seduz e mata viúvas. Para fugir da polícia, acaba por visitar a família da irmã no interior. Com a convivência, Charlie (Teresa Wright) - a sobrinha adolescente - começa a cada dia mais desconfiar que seu tio não seja realmente a pessoa que diz ser.
A sobrinha Charlie é uma típica jovem sonhadora e romântica do interior americano da década de 1940. Para ela, o tio representa o encanto do mundo masculino adulto. Encanto que cai por terra ao descobrir quem ele realmente é. O tio Charlie é sedutor e cínico. Conhece o poder que seu charme tem e acaba por utilizar esta característica para atingir seus objetivos. Mesmo assim, é um homem sem rumo. Em uma das cenas, ele mostra para a sobrinha como um estrangulamento é feito apenas usando um simples guardanapo, como uma autoafirmação de seu poder. Talvez uma das sequências mais simples e emblemáticas do filme e da carreira de Hitchcock, por mostrar como o cineasta sabia unir imagens e diálogos em momentos-chave para a compreensão e o suspense de suas histórias.
Além do mesmo nome e das personalidades distintas, outras pistas são distribuídas por Hitchcock ao longo da trama para mostrar que tanto tio quanto sobrinha são lados opostos de uma mesma pessoa. Em uma das cenas, a garota está na cama, pensativa, e em uma fusão de imagens, vemos o assassino também deitado e pensativo, como se ambos pensassem a mesma coisa, ou estivessem compartilhando o que têm em mente. Um para o bem e outro para o mal, é claro.
Porém, não é apenas o duplo o que mais interessa no filme. Toda a construção de A Sombra de uma Dúvida é milimetricamente pontuada, com o suspense crescendo a cada instante. Como de praxe, Hitchcock já mostra de cara que o tio não é uma pessoa confiável ainda na primeira cena, quando o vemos fugir da polícia. Quando ele chega ao interior pelo trem, vemos o céu claro ser tomado pela fumaça negra, como um presságio subliminar da maleficência do homem. E, a cada dia que passa com sua família, as pistas vão aumentando, mesmo que apenas a sobrinha, tão apegada a ele, comece a perceber.
Por centralizar a ação nestes dois personagens, Hitchcock escolheu dois atores que não poderiam entregar performances menos do que memoráveis. Joseph Cotten toma conta da tela como o falso simpático que na verdade esconde seu lado sombrio. À medida em que o filme avança e a máscara de Charlie vai caindo, de forma gradual, o mesmo acontece com o semblante de Cotten, que parece desfigurar e se tornar mais maléfico. Da mesma forma, a Charlie de Teresa Wright, que inicia o filme com ares ingênuos, vai amadurecendo, tornando-se mais dura, como se mostrasse o crescimento psicológico da personagem.
O final, que por pouco não é mais trágico, não poderia ser mais do que perfeito para os Charlie. Afinal, se passa no trem, onde o reencontro havia se dado. Momento de partir também. E, como bom duplo, um não poderia viver sem o outro. Ou será que sim? Não à toa o roteiro do filme foi indicado ao Oscar na época, um de seus maiores méritos aliado ao elenco afiado e a direção primorosa do mestre do suspense. Um clássico que está na lista dos melhores de sua filmografia. Não só na opinião de Hitchcock como do público também.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Matheus Bonez | 9 |
Daniel Oliveira | 9 |
Bianca Zasso | 9 |
Chico Fireman | 10 |
Cecilia Barroso | 8 |
MÉDIA | 9 |
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