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Sinopse

Jesse e Celine se encontram por acaso num trem. Ele a convence a mudar de rota e fazer uma pequena viagem por Viena. Nas deambulações dos dois pela cidade, nasce um vínculo afetivo e sexual que será incontornável.

Crítica

Um rapaz norte-americano conhece uma bela estudante francesa durante uma viagem de trem pela Europa e ambos se apaixonam. Poderia ser a premissa de apenas mais um romance açucarado, mas Antes do Amanhecer acabou definindo não apenas o amor de uma geração como também a maturidade com que histórias como esta podem ser contadas no cinema de hoje. Os méritos são vários: do casal de protagonistas (Ethan Hawke e Julie Delpy), excepcionalmente naturais, um diretor inexperiente (Richard Linklater), mas recheado de talento, e um roteiro que faz o público acreditar naquilo que está sendo contado em tela.

Na época, talvez nem o cineasta imaginasse que seu conto de amor, além de ter se tornado uma obra-prima contemporânea, tivesse sido contado no momento certo. Explico: no século XXI uma das coisas mais comuns que temos são relacionamentos à distância mantidos, especialmente, de forma virtual. Porém, quando Jesse (Hawke) e Celine (Julie) se apaixonam, não há Skype, MSN, Facebook ou qualquer outra facilidade moderna de comunicação que pudesse ajudar a manter um relacionamento à distância. E quando esta paixão aflora no decorrer de um dia, como é o caso do filme, sendo que há data marcada para acabar (ambos tem que voltar para seus países no dia seguinte), como lidar com esta explosão de sentimentos?

A resposta só viria nove anos depois, em Antes do Pôr-do-Sol (2004), mas antes de mais um excelente trabalho, vale relembrar porque Antes do Amanhecer ficou no imaginário de adolescentes e adultos dos anos 1990 e se mantém tão cult e verdadeiro, mesmo com o passar de quase duas décadas. A história do casal se constrói, basicamente, através de diálogos primorosos, que vão desde papos intelectualizados sobre a natureza e o ser humano quanto flertes bobos (mas apaixonantes). Soma-se a isto a forma como estas conversas são colocadas em tela pelo diretor, às vezes em planos extremamente abertos, outras em contraplanos que expõem as feições dos personagens sob o olhar um do outro, como se estivessem falando com a platéia, mas sem nunca deixar de lado seu foco de paixão. Além, é claro, das performances naturais dos protagonistas, que parecem se apaixonar de verdade, tamanha é a veracidade de suas atuações. E, por fim, temos as belas paisagens de Viena.

Em uma das diversas cenas memoráveis do longa que deu o Urso de Prata para o diretor no Festival de Berlim daquele ano, Jesse e Celine confessam o que sentem um pelo outro através de um diálogo "terceirizado", assim digamos, como se contassem para seus melhores amigos  sobre a garota/o rapaz por quem se apaixonaram. Nesta cena ficamos sabendo o que encantou no outro à primeira vista. Celine confessa que começou a se interessar por Jesse após ele dizer que viu o fantasma da bisavó, além, é claro, dele ter olhos azuis. Enquanto a francesa descreve outras qualidades do jovem, ele vai ficando envergonhado, sorrindo. Da mesma forma, quando o contrário acontece, Celine é descrita por Jesse como uma garota passional, inteligente, expansiva. E ela, tão sem graça quanto o próprio, não sabe onde se esconder.

Um diálogo que pode parecer bobo, e talvez até seja. Afinal, é um amor verdadeiro, puro, juvenil. Contudo, é através da descrição das qualidades um do outro que sabe-se a percepção tanto que Jesse tem de Celine quanto vice-versa. Até então percebíamos a paixão brotando, mas não exatamente a causa dela além da convivência e do encantamento inicial. Além disso, a forma sincera como ambos lidam com suas percepções é digna de atenção. Se no dia seguinte eles não tem mais perspectivas de se ver (ou melhor, de repente, em seis meses), como colocar todo aquele sentimento para fora de forma que emoções não sejam atropeladas e o "aproveitar o momento" vá para o espaço?

Antes do Amanhecer é um intenso retrato não apenas do amor que poderia surgir em qualquer casal do planeta, mas também de como os sentimentos são explorados e, consequentemente, podem terminar (ou não) através de um ato. Aqui a saudade e a esperança acabam servindo como motores para um possível futuro juntos. Mas o que fazer se não há a certeza disso? A continuação Antes do Pôr-do-Sol apresenta, pelo menos, metade desta resposta, que só deve vir em sua totalidade com Antes da Meia-Noite (2013), a ser lançado ainda este ano. Enquanto isso, nada como se deleitar com o primeiro filme e (re)descobrir porque Jesse e Celine são um dos (senão o) casais mais apaixonantes da cinematografia mundial.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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