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Crítica


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Sinopse

Kuttappayi, um jovem rapaz, encontra-se triste e desesperado quando começa a escrever uma carta para o avô, que está em um lugar sombrio e escuro. As recordações de Kuttappayi nos levam aos locais pitorescos de Kuttanad, onde ele e seu avô, Valiyappachayi, estão chegando com seus patos. A aldeia é muito agradável, mas o motivo que o leva até lá é a morte de seus queridos pais. Com esperança e liberdade, ele está prestes a começar sua nova vida entre o carteiro da aldeia sem cartas, o cão sem nome, o rapaz rico e muitos outros.

Crítica

Quando ao fim desse Armadilha surgem dados da UNICEF sobre o trabalho infantil pelo mundo, seguidos de uma dedicatória do projeto às crianças vítimas desse problema, fica, enfim, claro o objetivo dos realizadores de, através de sua narrativa, conscientizar o espectador. E ao lembrar que o filme abre anunciando ser uma releitura do conto Vanka, de Anton Tchekhov, escrito em 1886, o público também deveria ficar consternado ao perceber que uma triste realidade de mais de 130 anos permanece contemporânea hoje. Porém, se essa sensibilização existe, é porque nós, do lado de cá da tela, nos damos a trabalho de racionalizá-la, já que o longa em questão soa mais como uma propaganda que se estende demais.

Focado no pequeno Kuttappayi (Ashanth K. Shah), o fiapo de trama acompanha o menino de oito anos quando o avô (Kumarakom Vasudevan) o leva consigo para “pastorear” um bando de patos por um rio até o seu local de acasalamento. Lá, ele conhece um garoto de uma família rica, de quem se aproxima. Seguindo o exemplo do novo amigo, o pequeno logo se interessa por estudar também, ao invés de passar a infância trabalhando.

Porém, a relação das duas crianças jamais é desenvolvida, a ponto de que não entendemos porque exatamente se afeiçoaram um ao outro. Aliás, embora seja o protagonista, é preciso ressaltar a incapacidade do projeto de criar empatia com Kuttappayi, o que, mais do que normalmente até, seria essencial para que nos relacionássemos com a mensagem do filme. O menino quase nunca abre a boca, e quando faz, assim acontece submetido à tarefa de jogar a trama para frente. Além disso, ele é visto tão frequentemente em planos contraluz que nem mesmo é possível a identificação pela visualidade pura.

Por motivos similares, aliás, é que um dos únicos pontos positivos de Armadilha reside na sua plasticidade, que é bela. Jayaraaj sabe aproveitar os cenários dos rios indianos, praticamente fazendo um exercício malickiano ao configurar quase todo o filme na chamada “hora mágica”, durante o pôr do sol. Além disso, o cineasta combina essas bonitas composições estéticas com uma trilha calcada nos cânticos típicos do país. Mas como sua trama carece de profundidade, reflexão ou mesmo se justifica pela forma, já que seu apuro visual dificilmente busca inspirar alguma atmosfera qualquer, a narrativa não demora a se tornar entediante.

E mesmo com pouco mais do que uma hora e vinte minutos de duração, se arrasta por uma infinidade de pretensas contemplações (que não passam de autoindulgência de Jayaraaj) para chegarem a um ponto que, sem oferecer qualquer tipo de conclusão, claramente pretendia impactar por sua dureza. O que acaba não ocorrendo, pois Armadilha não é mais hábil ao nos provocar empatia pelos patos, do que pelos humanos que cruzam sua tela, sendo assim, um grande desserviço para a causa à que se dedica.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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