Crítica
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Sinopse
Diante da iminência da morte da idosa esposa, um velho indígena pede que seu sobrinho realize o Jamurikumalu, o maior ritual feminino do Alto Xingu (MT), a fim de que ela cante novamente e transmita conhecimentos às jovens.
Crítica
Até mesmo produções que chegaram à mostra competitiva nacional do 39° Festival de Cinema de Gramado sem muitas expectativas decepcionaram. Foi o caso de As Hiper Mulheres, de Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro, um filme que pode ser chamado de tudo – audiovisual institucional, tratado antropológico, observação documentada, registro educacional – menos de cinema. Este falso-documentário parte de um tema curioso – a tradição do Jamurikumalu, o maior ritual feminino do Alto Xingu e em vias de extinção – para a realização de algo que soa tão distante e estranho a todos nós que nem chega a gerar frustração, reduzindo-se à indiferença. Porém, se o observamos com distanciamento, mas ainda assim com curiosidade, é porque há algo ali que é relevante em um certo nível – a uma cultura que, mesmo distante da nossa, possui história e importância. Mas a partir do momento que nos damos conta que há um jogo em cena e que o espectador está sendo enganado, a percepção se altera completamente.
As Hiper Mulheres é uma obra sobre índios, feita por um índio e para ser vista por índios. À nós, homem branco, não é oferecido nenhum elemento de apoio para ajudar na compreensão e identificação com o que está se passando na tela. Não há interferência, narração ou justificativa. Apenas somos levados para o centro da aldeia e lá jogados, sem explicações ou esclarecimentos. E, sem envolvimento, não há como se interessar pelo que se vê, que termina sendo reduzido, aos olhos civilizados e ignorantes destes costumes, como algo sem sentido e desnecessário, ultrapassado. Isso, no entanto, é o que os diretores buscam. Mas o que vemos não teria como ser registrado de forma tão próxima e permissiva sem uma interferência direta nos acontecimentos. A não ser que a presença do estranho ali não fosse tão surpreendente assim. Ou seja, se há distanciamento com o público, o mesmo não aconteceu entre os realizadores e o foco da ação. Tudo que se vê é resultado direto de um conceito narrativo pré-estabelecido. Em outras palavras, não há documentação pura e simples, e sim um roteiro ficcional pensado e estudado, que é seguido à risca para obter o resultado programado.
As barreiras entre documentário e ficção ficam borradas até certo ponto em As Hiper Mulheres. Para o espectador desavisado e menos atento, não há questionamento sobre um ou outro. E se não provoca reflexão, qual seu efeito? Porém, por outro lado, qualquer um mais observador perceberá logo as evidentes impossibilidades de um registro sem intromissão. E o que temos é algo que quer seguir um caminho sem se sujeitar aos parâmetros necessários. E sem ser nem um, nem outro, a frustração termina por ser o caminho mais óbvio. Agora, pertinente é perceber o interesse generalizado pelo tema no Festival de Gramado. O evento da Serra Gaúcha tem tradição em premiar documentários com temática indígena – Raoni (1978), Serras da Desordem (2006) e Corumbiara (2009) são os exemplos mais evidentes. E a predileção se confirmou mais uma vez. Inacreditavelmente.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 5 |
Marcelo Müller | 8 |
Edu Fernandes | 8 |
Lucas Salgado | 7 |
Diego Benevides | 8 |
Chico Fireman | 7 |
MÉDIA | 7.2 |
Meu caro, Frustrante e decepcionante é a sua crítica, uma vez que demonstra a completa ignorância da sociedade urbana em relação aos povos indígenas. A simples dicotomia entre "índio" e "homem branco" deixa claro seu desconhecimento sobre as atuais discussões inerentes a este assunto. O fato do festival de Gramado já ter premiado três obras primas que retratam com sensibilidade dramas humanos, mais que dramas indígenas, é um reflexo de um cuidado e uma abertura à diferença cultural. Sua crítica deixa claro seu preconceito a este tipo de produção e aos povos que ela retrata. Mais do que se prender a conceitos e categorizações do cinema "branco", sugiro que você pense um pouco mais sobre os produtores e "atores" envolvidos nesta produção. Devemos ter em mente que em muitos rituais indígenas, a diferença entre o que é representação e o que realidade não é clara porque não é importante. O que é importante é a reprodução dessas artes, neste caso, o canto e a dança envolvidos no ritual e que precisam ser transmitidos às novas gerações. Esperamos que este cinema indígena que têm se multiplicado, se alastre pelos cinemas da cidade, para que cada vez mais as pessoas de livrem de seus preconceitos. Creio que esta é UMA das mensagens deste filme. Kiriwîhe