Asterix e o Segredo da Poção Mágica

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Sinopse

Astérix e Obelix precisam ajudar o velho druida Panoramix a encontrar um novo guardião para a poção mágica que garante a resistência gaulesa. Durante a viagem pela região, devem impedir que a fórmula tão cobiçada caia nas mãos erradas.

Crítica

Décimo longa de animação com os personagens criados por Albert Uderzo e René Goscinny – o primeiro foi Asterix: O Gaulês (1967), ou seja, há mais de 50 anos – Asterix e o Segredo da Poção Mágica é recém o segundo – após Os 12 Trabalhos de Asterix (1976) – a ter sua trama baseada em uma história original, ao invés de adaptar para o cinema um argumento já visto nos quadrinhos. Essa suposta liberdade, no entanto, tem óbvios prós e contras. Se por um lado estes tipos tão característicos parecem ter empreendido uma volta às origens, resgatando elementos e costumes que há muito não eram vistos, por outro perdeu-se um tanto o foco nas duas figuras mais conhecidas – Asterix e Obelix – para que o protagonismo fosse desviado para outros tipos não menos interessantes, como o druida Panoramix. É uma mudança de rumo que, num primeiro momento, pode causar alguma estranheza, principalmente entre os não familiarizados com os irresistíveis gauleses. No entanto, passado esse desconforto, o que se verifica é uma aventura feita para agradar tanto velhos fãs como neófitos nesse universo.

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Alexandre Astier, co-diretor e co-roteirista de Asterix e o Segredo da Poção Mágica, havia dublado a voz do centurião Oursenplus no anterior Asterix e o Domínio dos Deuses (2014) – tarefa que mais uma vez desempenha, aliás. Ou seja, sua familiaridade com esses heróis franceses é mais do que comprovada, o bastante, pelo que se percebe, para justificar um maior envolvimento. Transitando por um cenário que lhe é familiar, revela habilidade em se aprofundar nas personalidades de cada um em cena de forma rápida e sucinta, sem se perder em desvios que não levariam a lugar algum além da redundância. Asterix segue como um líder natural, Obelix é o bonachão absurdamente forte e sensível, Panoramix vai do orgulho – pelo cargo que exerce em sua aldeia – à extrema sapiência – por identificar soluções onde se menos imagina e César quer apenas resolver problemas – e, no processo, evitar que outros sejam criados. Todos mais uma vez reunidos, por mais ocasional que esse reencontro se revele.

Tudo começa quando Panoramix, enquanto recolhe frutos na floresta, acaba se desequilibrando e caindo do alto de uma árvore. Na queda, nada se machuca mais do que seu ego. Isso o leva a tomar uma decisão drástica: se não é mais o jovem de antes – ainda que a longa barba branca fosse um bom indício dessa realidade – chegou o momento de procurar por um jovem aprendiz e, a esse, revelar o tal segredo da Poção Mágica responsável pela superforça que concede a quem dela provar, o que tem garantindo a resistência do pequeno vilarejo frente às forças romanas há décadas. Asterix acha isso um absurdo, Obelix está para o que der e vier, sem pensar muito a respeito, e o chefe Abracourcix, por mais contrário que seja a este movimento num primeiro instante, acaba refletindo que o melhor é fazer o que o sábio considera ser certo. Assim, partem numa jornada por toda França – e até mesmo Europa – atrás de um druida novato que possa ser seu substituto no futuro. O que não contavam, no entanto, é que Sulfurix, um antigo desafeto do ancião, também esteja interessado nesse processo de escolha, pois uma vez no domínio da fórmula tão disputada, seus sonhos de fortuna e glória finalmente possam se concretizar – ainda mais após uma insuspeita conexão com César.

Se a sequência inicial já oferece uma boa brincadeira com os javalis – a caça preferida de Obelix, mas que aqui, numa adaptação voltada a um público mais amplo, ou seja, não apenas aos adultos afeitos aos gibis, mas também às crianças, ao invés de virarem comida revelam uma importância maior – outros de destaque secundário também acabam pontuando a trama, como os piratas, que naufragam nos momentos mais inesperados, o cantor Chatotorix, que numa reviravolta acaba assumindo a liderança da aldeia, ou mesmo a velha rixa entre o ferreiro Cétautomatix e o peixeiro Ordenalfabetix, com desdobramentos para esse último que acabam por conectá-lo diretamente com o enredo principal. Ou seja, há uma coesão forte entre as linhas narrativas. Ao mesmo tempo, encontram espaço para inserir outras discussões, como empoderamento feminino – a mensagem, por mais subliminar que seja, encontra grande relevância – e apreço estético (a cultura, enfim) versus funcionalidade prática (o operacional, portanto), uma discussão que não poderia ser mais urgente do que nos dias de hoje.

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Mas se Panoramix parece estar no centro dos acontecimentos, são Asterix e Obelix – e tanto a relação entre eles como o modo como os dois se comportam em relação aos demais – onde se deposita o verdadeiro coração de Asterix e o Segredo da Poção Mágica. Dinâmico o suficiente para manter os menores da audiência ligados do início ao fim e com reviravoltas e surpresas na quantidade exata para garantir a atenção daqueles que há muito transitam por estes ambientes, tem-se aqui uma obra que consegue estabelecer linhas de diálogo com os mais diversos públicos, apontando para um vigor rejuvenescido, algo que muitos em condições e procedências similares – veja Tintim ou os Smurfs, por exemplo – não conseguem com a mesma destreza, apesar de todos os seus esforços. O fato desta ser uma produção francesa, é claro, contribui em muito para esse resultado. Pois, atendo-se as suas origens, consegue de forma efetiva falar com todo o mundo. Gauleses, sim, mais irredutíveis do que nunca, com certeza, mas ao alcance de todos, por certo.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
7
Leonardo Ribeiro
6
MÉDIA
6.5

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