Crítica
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Sinopse
Caçula de um militante palestino, Sanfur é recrutado aos 15 anos como informante da Razi. Ele e seu superior imediato desenvolvem um forte laço de afeição, o que impõe um dilema dilacerante em sua vida.
Crítica
Em uma das primeiras cenas de Belém: Zona de Conflito, presenciamos Sanfur (Shadi Mar’i) vestir um velho colete à prova de balas, encontrado perdido no meio de uma planície, e desafiar seus amigos a atirarem nele, como prova de sua coragem. Tal demonstração de valentia – e inconsequência – irá acompanhar o personagem por todo o desenrolar deste interessante filme, trabalho de estreia não só do diretor e roteirista Yuval Adler, como também os seus três protagonistas: além de Mar’i, Tsahi Halevi, como Razi, um agente do Serviço Secreto Israelita, e Hitham Omari, como Badawi, um dos líderes das forças de resistência palestina, também nunca haviam atuado antes. E o conjunto destas interpretações, assim como a mão segura do realizador, que sabe muito bem o que pretende com seu longa, garantem a relevante pertinência do projeto e seu inquestionável valor artístico.
Belém é uma cidade perdida no tempo e no espaço. Impedida de crescer e se desenvolver, a terra natal de Jesus Cristo é motivo de disputa constante entre israelenses e palestinos. Localizada na parte central da Cisjordânia, é considerada capital dos Territórios Palestinos, ao mesmo tempo em que se encontra a apenas 10 km de distância de Jerusalém, centro moderno e evoluído de Israel. Impedidos de avançar na região, agentes israelenses precisaram desenvolver uma rede de contatos para prever e combater novos ataques terroristas ao país, muitas vezes liderados e conduzidos por militantes palestinos das proximidades. Ao mesmo tempo, aqueles que coordenam os movimentos de revolta da Palestina contra a opressão israelita também se encontram sitiados, proibidos de cruzar a fronteira normalmente. De acordo com essa situação, qualquer terrorista pode se transformar em mártir da noite para o dia, ao mesmo tempo em que um delator revelado se tornará o pior dos traidores.
Sanfur está no meio do caminho entre estes dois extremos. O jovem, nem bem saído da adolescência, foi cooptado por Razi em um momento crítico, e hoje serve secretamente de informante para o oficial. O objetivo é nobre – evitar novas mortes e atentados – mas, após uma série de eventos malsucedidos, o colocará em rota de colisão com Badawi, que se recusa a suspeitar do rapaz, irmão de um dos mais importantes ativistas locais. Conhecido por sua energia destemida e sua falta de controle, Sanfur terá que usar do seu poder de estratégia para evitar trair aqueles que ama e nem desrespeitar a confiança de quem tem investido nele. Mas quando se é colocado no meio de um fogo cruzado, qualquer decisão mais precipitada pode ser a última.
Yuval Adler fala de um assunto não estranho aos habitantes da região onde se passa Belém: Zona de Conflito, e por isso mesmo seu discurso tem propriedade e conteúdo. A falta de experiência dos envolvidos na produção é logo substituída por uma veracidade que está além da tela, um sentimento perceptível pelo espectador, que embarca nos acontecimentos da trama sem redes de segurança. Selecionado para representar o país na disputa por uma indicação ao Oscar na categoria de Filme Estrangeiro, foi ainda o grande vencedor da premiação da Academia de Cinema de Israel, tendo ganho inclusive como Melhor Filme, Direção, Roteiro e Ator Coadjuvante (Halevi). Um início com dois pés direitos, cuja força está não só na tela, mas também no impacto provocado em qualquer um na audiência, como um filme que permanece vivo mesmo após o seu término graças a um final corajoso e a um contexto que está além de explicações óbvias.
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