Crítica
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Crítica
Elementos da cultura e folclore popular brasileiros assumem a narrativa do filme Brincante, que mistura a ciranda, o frevo, o caboclinho, o reisado, o boi, o cordel, o maculelê, à teatralidade mambembe, aos números circenses, às performances de dança contemporânea, também às incursões ao nordeste e intervenções artísticas coletivas na contrastante capital paulistana. Tudo isso se entrelaça para biografar o artista Antônio Nóbrega, numa declaração de que a vida só faz sentido se dedicada à arte.
Na telona, o protagonista alterna a interpretação do personagem Tonheta consigo próprio. O mesmo acontece com sua esposa e parceira artística, Rosane Almeida, que representa a personagem Rosalina. O romance do casal funciona como um fio condutor para abordar o amor, a família, o ofício artístico e as relações humanas no interior e na metrópole.
Múltiplas expressões artísticas inseridas na história destacam imagens e sons em detrimento do texto tipicamente adotado no cinema. A substituição revela referências à telenovela Cordel Encantado (2011) e ao longa O Auto da Compadecida (2000), além de harmonizar a estética do filme à missão de vida dos protagonistas da história ao mostrar ao público a arte vivida e multiplicada pelo casal. Entre turnês nacionais e internacionais, Antônio Nóbrega e Rosane Almeida mantém um bem-sucedido centro de formação de novos artistas em São Paulo, o “Espaço Brincante”.
As vitórias e conquistas legadas a partir do trabalho artístico, entretanto, não omitem a reprovação vivida por quase todos que resolvem viver da arte. Em uma das passagens mais cômicas, o casal retorna ao interior do nordeste, onde reúne os seus, para a típica foto de família. Diante da câmera programada, o grupo inteiro debanda em correria antes mesmo do clique. O gesto foi uma rejeição às “ovelhas negras” disfarçado de susto diante da câmera – modernidade tão incomum naquele contexto, quanto o estilo de vida de Antônio e Rosane.
Em última análise, todos que se dedicam direta ou indiretamente às atividades artísticas ou criativas assumem o mesmo ônus do estranhamento por serem vistos como pessoas “diferentes”, “alternativas”, “bichos grilos” ou – simplesmente – por não se identificarem e não corroborarem o status quo. Por isso, Brincante é um brinde à coragem de assumir e sustentar as escolhas, que dão sentido à própria vida, quando a sociedade pinta a plenitude com tintas jetsetter.
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