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Sinopse

Max Cady foi preso e condenado por estupro 14 anos atrás. Ele cumpriu sua pena, e está livre. Só que agora pretende se vingar de Sam Bowden, seu ex-advogado, que omitiu informações que alterariam a decisão do júri.

Crítica

Em 1991, Martin Scorsese conseguiu um feito que poucos diretores conquistam: transformar um remake num filme superior ao original. Foi exatamente o que aconteceu com Cabo do Medo, refilmagem de O Círculo do Medo (1962), de J. Lee Thompson – que, por sinal, já era ótimo. Após ter seu Os Bons Companheiros (1990) indicado ao Oscar em seis categorias (inclusive Melhor Filme e Direção), o cineasta investiu no thriller e, mesmo dividindo a crítica na época, conseguiu elevar o status de sua obra ao longo dos mais de vinte anos de seu lançamento.

Ao criar uma atmosfera aterradora de violência e paranoia (que Scorsese retomaria anos depois em Ilha do Medo, 2010) e com ares de Frenesi (1972), de Alfred Hitchcock, o diretor apresenta um Robert De Niro absolutamente assustador no papel do homem que ficou preso 14 anos e resolve se vingar do próprio advogado (Nick Nolte), que omitiu informações para condená-lo. No fim sobra para a mulher (Jessica Lange) e a filha (uma novata Juliette Lewis, em seu primeiro papel de destaque) também tornarem-se alvos.

A relação pedófila entre Max Cady (DeNiro) e Danielle (Lewis) é um dos aspectos mais interessantes do filme. Scorsese não julga seus dois personagens, apesar de deixar claro que o vilão apenas usa seu poder de sedução para se aproximar cada vez mais da família do antagonista. O asco e a atração que a garota sente ao mesmo tempo são refletidos pelo olhar e a timidez da então novata atriz, que, merecidamente, foi indicada ao prêmio de Coadjuvante no Globo de Ouro e no Oscar do ano seguinte.

Max, por sinal, tem um dos arcos mais complexos no que se pode dizer de grandes vilões da telona. Se foi preso injustamente ou não, o roteiro trata de dar a resposta apenas mais à frente. Com voz firme, porém mansa, o personagem utiliza a religião como forma de abstrair a culpa por seus crimes. Mas o jeito truculento que se revela para a personagem de Illeana Douglas na cena do estupro é de uma violência física e psicológica que o diretor ousou mostrar. A inteligência de Max entra em contraponto ao seu físico bem trabalhado e o corpo repleto de tatuagens. Seu conhecimento adquirido nos longos anos de prisão sobre questões jurídicas acaba se tornando uma de suas principais armas para aterrorizar Sam (Nolte), Leigh (Lange) e Danielle. E, por trabalhar de forma magnífica cada um destes aspectos, DeNiro entregou uma das melhores performances de sua vida.

Scorsese, aqui, conversa com o cinema de Hitchcock, inclusive na densa trilha sonora, composta por Bernard Herrman (na primeira versão do filme) e adapatada por Elmer Berstein. Ao evocar o sexo e o estupro como algumas das principais características de Max, encontra-se o diálogo com o já citado clássico do mestre do suspense, Frenesi. Porém, não apenas isso. A polícia ineficiente, o chefe de família aterrorizado, a esposa loira e gélida e a criança inocente que se revela mais esperta que os pais também encontram ecos na filmografia do diretor.

Com uma decupagem recheada de chicotes (movimentos rápidos de câmera) em momentos-chave de Cabo do Medo, aliada a uma montagem interessante e que dá ritmo para que o horror se instaure não apenas nas mentes da família perseguida na tela, mas também no público, Scorsese assina uma de suas marcas registradas como autor. O filme acaba tratando não apenas da perseguição de Max sobre seu advogado, como também ao sugerir que uma crise deste tamanho pode acabar quebrando uma família por completo. Um suspense simples, mas tão bem conduzido, que tornou-se uma grande obra.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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