Crítica
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Sinopse
A vida do poeta armênio Sayat Nova é observada a partir de uma perspectiva poética. Sentimentos abstratos ganham equivalentes cienmatográficos.
Crítica
O letreiro inicial adverte o espectador de que A Cor da Romã não é uma cinebiografia convencional, estando mais próxima de um mergulho profundo na obra do trovador armênio do século XVIII Harutyun Sayatyan, conhecido amplamente como Sayat Nova. O que temos depois é a confirmação inequívoca disso, vide a negação de uma narrativa mais tradicional, procedimento que em nada tem a ver com uma necessidade de exibir banalmente firulas de linguagem, pelo contrário. O radicalismo da proposta pode afastar alguns, afinal de contas o filme é feito praticamente de quadros, de fragmentos impregnados de lirismo e beleza, numa busca constante pela transcendência que verte da palavra à imagem. Aliás, ciente do poder intrínseco e muito particular do cinema, o diretor Sergei Paradjanov restringe o texto, a matéria-prima, ao mínimo, utilizando o visual e o sonoro como seus embaixadores.
Há uma cronologia a ser minimamente respeitada, já que A Cor da Romã abarca a vida de Nova da infância até a morte, em linha reta. Acompanhamos os rituais da meninice, a relação com pessoas próximas e as descobertas competentes ao período, mas sem que tenhamos qualquer contato direto, seja com as emoções ali distribuídas, ou mesmo com a experiência particular do garoto. Cada recorte parece uma pequena epifania. Os acontecimentos são revestidos de uma grossa camada que lhes dá aura de eventos, de ocorrências quase místicas, intermediadas não por uma divindade ou algo que a valha, mas pela onipresença do impulso artístico que guia o protagonista da alvorada ao crepúsculo. Nesse sentido, os excertos poéticos de Nova, que entrecortam a narrativa, servem como cais onde a “trama” aporta de vez em quando para tomar fôlego, como se neles procurasse recorrentemente inspiração.
A realização de Sergei Paradjanov é instigante àqueles que embarcarem na espécie de transe sugerido, mas pode se revelar um tanto enfadonha, isso de acordo com o nível em que o espectador nela se entranhe. É necessário contemplar para fruir, uma vez que não há propriamente uma história a ser entendida, nem ao menos episódios encadeados logicamente. Nessa complexa construção, regida pelo abstrato, a fotografia, a cargo de Suren Shakhbazyan, desempenha papel fundamental, não apenas no que diz respeito ao enquadramento, ou seja, à concepção do plano, mas também ao ideário cromático, instâncias essenciais ao percurso do longa-metragem. A direção de arte é outro elemento fortemente ligado ao êxito da empreitada, tanto que podemos colocá-la facilmente num patamar de destaque.
A ancestralidade transborda em A Cor da Romã, fazendo dele um insuspeito documento de época, não da sua própria, mas da evocada poeticamente. Ao invés de garimpar a vida do biografado, trazendo à baila fatos e conjecturas instaurados na ordem do corriqueiro, Sergei Paradjanov prefere valer-se da herança dele, de certa forma traduzindo sua produção artística em termos cinematográficos, para isso criando um filme que funda sua razão de ser nas múltiplas possibilidades de interpretação do visto, ainda que, efetivamente, seja conduzido pela trajetória do trovador. O vermelho é abundante, presente nas vestimentas rituais, nos adornos que ajudam a deflagrar o estilo predominante e no sangue dos animais sacrificados. O filme de Sergei Paradjanov é hipnótico, nem sempre fácil de acompanhar, mas instigante, sobretudo em virtude da singularidade com que estrutura suas alegorias.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 6 |
Diego Benevides | 8 |
Bianca Zasso | 8 |
Chico Fireman | 8 |
Alysson Oliveira | 9 |
MÉDIA | 7.8 |
Poderiam ter escrito algo mais acessível né.