float(5) float(1) float(5)

Crítica


7

Leitores


1 voto 10

Onde Assistir

Sinopse

Nova York, entre 1920 e 1940. O Cotton Club é o mais badalado clube noturno do Harlem. Um lugar de sonhos e desilusões, que tanto pode tornar momentos inesquecíveis, como acabar com as maiores ambições.

Crítica

Após ter sua fase áurea nos anos 1970, Francis Ford Coppola passou por alguns perrengues na década seguinte quando levou aos cinemas O Fundo do Coração (1981), um fracasso de público e bilheteria que fez a Zoetrope Studios falir. Para reerguer a carreira, foi aceitando projetos sob encomenda de outros estúdios até chegar em suas mãos a chance de reescrever o argumento de Mario Puzo (autor, justamente, da obra que inspira a trilogia O Poderoso Chefão) para um filme baseado no Cotton Club, famoso clube de jazz do Harlem.

O longa é um misto de musical e filmes de gangsters centrado no retrato dos EUA pré e durante a Grande Depressão. É a guerra que se estabelece entre judeus, irlandeses e negros ao mesmo tempo em que o jazz floresce nos clubes. No meio diss tudo, surge Dixie Dwyer (Richard Gere), trompetista que a vida do gangster judeu Dutch Schultz (James Remar). É a porta de entrada para que o músico seja um dos primeiros brancos a tocar o gênero musical, já que seu resgate culmina com um emprego no clube do título. É lá também que o protagonista conhece a bela cantora Vera (Diane Lane), com quem tem um romance.

Entre personagens fictícios misturados com reais, Coppola entrega um filme menor com ares de grande produção. A recriação dos cenários da época, centrando a ação praticamente em sua maior parcela em cenas internas, especialmente no clube, aliado aos números musicais, faz o espectador viver aquela época. E isto não é pouco, já que o filme tem mais de 30 anos e outras produções do gênero já passaram pelas telas desde então. A direção de arte é tão esplendorosa neste sentido que a produção foi indicada na categoria no Oscar da época, além de Melhor Montagem. Por sinal, também muito bem realizada, dando espaço para os eventos dramáticos e violentos não ofusquem os musicais e vice-versa, condensando bem a obra.

O mais interessante da obra ainda é uma discussão sobre como o gênero musical, originado por negros, era justamente proibido para os mesmos em clubes. Eles podiam tocar, mas a entrada permitida era apenas para brancos. E não estamos falando do sul dos EUA, e sim de Nova Iorque, ampliando ainda mais a polêmica sobre as questões raciais do país, que, muitas vezes, parece se restringir aos sulistas perante o grande público, não lembrando que todo o país tinha esta segregação, ainda que em outras regiões não fosse tão destacado.

Dito isso, vale mencionar que Gere faz um belo trabalho, especialmente ao lado de Diane Lane, com quem reproduziria a química duas décadas depois em Infidelidade (2002) e Noites de Tormenta (2008). Ambos ainda são jovens em Cotton Club, cheios de energia e esbanjando um talento ascendente. A relação do casal proibido é explosiva, entre brigas e momentos de carinho e paixão. Ela, especialmente, se revela ainda mais ao assumir ares de femme fatale, dando grandes contornos à história. São o destaque do elenco ao lado de Bob Hoskins, que interpreta um outro poderoso gângster.

Entre música e violência, Cotton Club não fez o sucesso prometido nos EUA, se pagando apenas quando estreou na Europa, onde Coppola tem uma legião de fãs realmente maior. Para falar a verdade, talvez nem o próprio estivesse dando bola, afinal, em uma declaração na época ele falou que nem queria muito fazer parte do projeto. Se é verdade ou não, o que interessa é que, mesmo em uma obra menor, o cineasta conseguiu entregar um produto acima da média, que pode falhar em alguns aspectos, mas, no todo, é uma agradável produção para quem gosta de jazz e crimes.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
avatar

Últimos artigos deMatheus Bonez (Ver Tudo)

Grade crítica

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *