Crítica
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Sinopse
Antônio Martins é um respeitado crítico teatral, que se atrai por Inês, uma modelo de nus artísticos que é altamente influenciável pelo pintor José Torres. Antônio sente ciúmes do mentor da moça, e os três se envolvem em um triângulo perigoso.
Crítica
Você pode ser alguém interessado no cinema nacional. Pode até dedicar uma atenção especial a obras alternativas e pouco convencionais. Pode conhecer o cineasta paulista Beto Brant e ser fã de sua filmografia. Porém, antes de conferir Crime Delicado, é aconselhável deixar qualquer impressão ou teoria prévia de lado e ir de coração e mente abertos: este longa é mais uma experiência sensorial do que uma obra de estrutura e ambições tradicionais, com início, meio e fim. A proposta é ousar, em forma, conteúdo e mensagem. Algo, aliás, atingido de muito bom grado.
Apesar de se apresentar como “baseado no romance Um Crime Delicado, de Sérgio Sant’Anna”, este dado não é de todo verdadeiro. Isto porque o livro serve apenas como ponto de partida; o mais apropriado seria dizer “inspirado em...”. O que se mantém num e noutro são os personagens principais – um crítico teatral que possui uma visão amarga da vida e da arte, uma atriz iniciante dotada de uma beleza pouco convencional, e um artista plástico mais velho e experiente – e a trama básica – o crítico se apaixona pela atriz, que tem uma relação muito especial com o artista plástico; crítico e atriz transam, ela meio que em estado de transe, ele tomado por ciúme e posse, e no dia seguinte ela vai a uma delegacia e o acusa de tê-la estuprado. Porém as diferenças entre os meios são muito maiores do que as supostas semelhanças aqui descritas.
Crime Delicado é um longa que investe num perfil autoral e num conteúdo hermético, o que deve provocar um sentimento de desconforto na maioria, que na pressa por uma avaliação fugaz acabarão por desprezar sua inquietação e relevância. Estes, no entanto, estarão deixando passar um trabalho bastante singular. E, assim como qualquer inovação, esta também não pode esperar que seja aceita e compreendida sem ressalvas pela maioria. O diretor, ao mesmo tempo condutor e criador, faz proveito de imagens, retalhos e espelhos para construir seu discurso. Ele abre mão daquilo mais próximo ao seu dispor, como a peça teatral, o cenário vazio, a discussão acalorada, a pintura, o preto e branco, e a cor em demasia, fazendo destas peças um quebra-cabeças que pretende mais provocar do que explicar. Brant não busca por soluções, mas antes deseja criar e colocar em discussão novas e antigas inquietações.
O principal objeto de debate em Crime Delicado não é o incidente violento entre os protagonistas, muito menos a delicadeza do envolvimento deles; é a natureza da arte, pano de fundo de toda e qualquer relação, seja amorosa, social ou profissional. A manifestação artística liberta, mas também aprisiona e restringe, impondo limites e questionamentos. E como, então, ser livre diante tamanha entrega e procura? O amor, o desejo, e a busca por um significado maior para o que fazemos e representamos está presente em cada fotograma deste filme, que exige de sua audiência uma apreciação com muito cuidado, pois as pistas e chaves que esconde em si podem e devem ser revistas e empregadas num conceito mais amplo e pertinente.
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