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Crítica


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Sinopse

Romântica, Elsa sonha em encontrar um amor a fim de recriar com ele a famosa cena da Fontana di Trevi de A Doce Vida (1960). Fred é um homem pacato, acostumando-se com a viuvez, que se muda para o apartamento ao lado.

Crítica

Hollywood tem olhado com maior atenção para o cinema argentino, buscando em filmes de sucesso material para novas produções. Foi assim com Nove Rainhas (2000), estrelado por Ricardo Darín, que virou 171 (2004), com John C. Reilly. Será assim também com outro longa de prestígio estrelado por Darín, O Segredo dos seus Olhos (2009), vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2010 e que ganhará versão norte-americana com Julia Roberts, Nicole Kidman e Chiwetel Ejiofor no cast, em 2015. O exemplo mais recente que aportou nos cinemas é Elsa & Fred, baseado no filme homônimo lançado em 2005, desta vez com Christopher Plummer e Shirley MacLaine no elenco. Ainda que os nomes do pôster chamem atenção, fica sempre aquele sentimento de que não era necessário uma refilmagem. O filme argentino já se valia, e muito, por si só.

Dirigido por Michael Radford e com roteiro dele ao lado de Anna Pavignano, Elsa & Fred acompanha os personagens-título na terceira idade. Elsa (MacLaine) é a alegria em pessoa. Sempre risonha, tenta olhar o lado bom da vida em todos os momentos. Mentirosa patológica e sonhadora inveterada, tem um desejo incrível de reviver a clássica cena da fonte em A Doce Vida (1960), de Fellini, seu filme favorito. Seu novo vizinho, Fred (Plummer), não é tão solar quanto ela. Viúvo recente, passa a maior parte do tempo deitado, sem vontade de fazer qualquer coisa. Quando os dois se conhecem, com personalidades tão diferentes, as rusgas logo começam. Mas uma admiração muito grande e uma improvável paixão se sobressaem.

Michael Radford dirigiu bons trabalhos no passado, como 1984 (1984), baseado na obra de George Orwell, e O Carteiro e o Poeta (1994), indicado ao Oscar de Melhor Filme. Mas tem perdido a mão nos últimos tempos. Em Elsa & Fred, o diretor demora muito para encontrar o tom certo para contar a história. De início, o filme tem toques de comédia farsesca, principalmente com a performance de Shirley MacLaine, fazendo o diabo como uma velhinha sem papas na língua. Aos poucos, a trama vai se equilibrando entre o drama e a comédia, vacilando em ambas as frentes. Isso acontece até que os personagens estejam bem alinhados. Depois disso, o espectador passa a se importar com o destino de ambos e o andamento da trama apresenta uma flagrante melhora.

O fato de termos dois atores que dispensam maiores apresentações defendendo personagens interessantes ajuda bastante. Mas nem Shirley MacLaine, tampouco Christopher Plummer, conseguem nos convencer na mudança tão grande pela qual Elsa e Fred acabam por passar. O último, principalmente, que se transforma de um sujeito turrão para um agradável e divertido senhor. Não é impossível tal metamorfose, mas da forma rápida que acontece, fica difícil engolir. De qualquer maneira, é tão gostoso assistir a dois atores tão talentosos em papeis protagonistas, quando sabemos que Hollywood é cruel com intérpretes idosos, que logo esquecemos destes poréns e embarcamos na história.

Para quem é cinéfilo, existe um gostinho especial na recriação de uma das cenas mais clássicas de A Doce Vida. É uma sequência agridoce que pode levar os mais sensíveis às lágrimas. Com elenco de apoio cheio de rostos conhecidos – com destaque para Marcia Gay Harden, Scott Bakula e James Brolin – mas sem muito espaço para que estes desenvolvam algo extraordinário, Elsa & Fred é um filme leve e divertido, que toca em temas como o amor na terceira idade, na tenacidade em buscar sonhos impossíveis e no clássico “nunca é tarde” para qualquer coisa. Neste caso, amar e ser amado. Pode não ser tão bom frente à produção argentina – talvez até dispensável – mas deve divertir o público alvo.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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