Crítica
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Sinopse
Dentro de uma instituição tão conservadora quanto o Congresso Nacional, Jean Wyllys é um corpo estranho. Voz ativa na luta pelos direitos LGBTQIA+, antenado em discussões políticas progressistas, ele se destaca enormemente.
Crítica
Há alguns anos, Jorge Furtado dirigiu para a Rede Globo o telefilme Homens de Bem (2011), em que Rodrigo Santoro aparecia como um investigador particular contratado pela Polícia Federal para lidar com casos de corrupção entre empresários privados e políticos da alta esfera nacional. A mesma expressão é constantemente empregada por deputados e senadores ligados a uma corrente mais tradicional e conservadora para justificar suas posições, como se tudo que fugisse de suas rígidas diretrizes fosse contra o homem e a família. Pois, quando uma voz se levanta contra essa visão ultrapassada, como ela é tratada? Essa questão, que há muito deixou de ser meramente hipotética, é o centro do contundente documentário Entre os Homens de Bem, que parte da carreira política do deputado federal Jean Wyllys para propor um retrato da intolerância e da cegueira institucional daqueles que fingem exercer o poder no Brasil em nome de muitos, mas na maioria das vezes estão pensando apenas em si próprios.
Jean Wyllys saiu de uma casa bastante humilde no interior da Bahia em busca de seus objetivos: estudar, crescer e aprender. Professor, se tornou nacionalmente conhecido ao ingressar no programa Big Brother Brasil (2005). Por sua posição franca quanto a questões potencialmente polêmicas, como sua homossexualidade, enfrentou por diversas vezes a berlinda durante a atração, sempre mantendo-se na disputa pela aprovação popular. Assim, acabou sagrando-se campeão, ainda que sua concorrente direta na época fosse Grazi Massafera, uma garota linda, loira e de ascendência europeia – contra um jovem gay, negro e pobre. Essa vitória particular contra o racismo e o preconceito se mantém até hoje, porém em outras instâncias. Eleito Deputado Federal pelo Rio de Janeiro em 2010 com pouco mais de 13 mil votos, em 2014 conseguiu a reeleição aumentando em mais de dez vezes esse montante. Durante o mesmo período, foi considerado o melhor Deputado Federal do país em mais de uma ocasião. No entanto, ainda assim sua luta incomoda muita gente. E como poderia ser diferente?
Em um Brasil acostumado a privilegiar apenas os mais favorecidos e abafar cada vez mais aqueles sem condições, aumentando intencionalmente as diferenças sociais, Jean Wyllys é uma figura que foge desse padrão. Ele atrapalha o pré-estabelecido. Ele não se esconde. Ele fala na cara. Ele diz o que pensa. Ele levanta bandeiras que ninguém parece ter coragem de defender – a união homoafetiva, a legalização do aborto, o respeito da separação do Estado e da religião. São atitudes contínuas, por vezes desgastantes, e que exigem perseverança e determinação. Os diretores Caio Cavechini (que integrou a equipe do programa Profissão: Repórter) e Carlos Juliano Barros (jornalista de revistas como Carta Capital e Rolling Stone Brasil) não estão dispostos, no entanto, a retratar uma celebridade ou um mártir solitário. Por outro lado, fazem uso da figura de Jean para estabelecer um olhar muito maior, que revela um desrespeito gigantesco à Democracia, aos Direitos Humanos e à Liberdade individual. Seus opositores lutam aos berros para interferir cada vez mais na vida dos outros. Jean batalha, por sua vez, para garantir que cada um faça o que quiser da sua própria vida. Sem a interferência daqueles que ditam regras sem nem ao menos a hombridade de cumpri-las.
Porta-voz da causa LGBT no Congresso Nacional, Jean Wyllys é também apresentado como indivíduo em Entre os Homens de Bem. O lado particular do deputado é visto desde o começo, quando ele revela suas crenças – durante sessão de um rito religioso de acordo com sua fé. É preciso uma benção forte para se proteger de tanta sujeira e maledicências. Ouve-se também declarações amorosas e sexuais – muitas encaradas com constrangedora galhofa – e carinho e fragilidades. Ainda que tenham um foco pré-estabelecido, os cineastas procuram manter uma distância respeitosa – nem mesmo Wyllys chega a falar diretamente para a câmera ou a responder perguntas prévias. Busca-se seu cotidiano. As interferências tendem a ser mínimas. A sensação, portanto, é justamente a oposta, a de uma proximidade privilegiada, indo do absurdo ao inesperado, das confrontações às pequenas gratificações. O resultado é um mosaico amplo, e nunca desprovido de surpresas.
Entre os Homens de Bem acompanha uma jornada árdua – afinal, por que cada vez mais a população revela-se desiludida com o cenário político nacional? – e repleto de encruzilhadas, em que cada decisão precisa ser tomada com muito cuidado e reflexão. Aqueles contrários a forma de agir de Jean são conhecidos nacionalmente, e ainda que não se faça necessário oferecer espaço neste texto como palanque para seres ignóbeis, os mesmos ganham oportunidades mais que suficientes durante o longa para que não se tenham dúvidas a respeito do que pensam e como agem. São baixos, corrompidos, velhacos acostumados a um jogo de trocas e favores que não conseguem manter um diálogo, por mais que tentem disfarçar suas verdadeiras intenções por detrás de caras de bom moço. São eles os ‘homens de bem’? Num quadro como esse, em que o significado da expressão nunca esteve tão deturpado, sábio aquele que se mantém distante dessa designação. Exatamente como busca fazer o personagem aqui biografado.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 8 |
Ailton Monteiro | 7 |
Wallace Andrioli | 6 |
MÉDIA | 7 |
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