Eterno Amor

Crítica


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Sinopse

Mathilde aguarda notícias de seu noivo soldado assim que acaba a Primeira Guerra Mundial. No entanto, ela fica sabendo que ele fez parte de um grupo que se automutilou para deixar a frente de batalha precocemente.

Crítica

Após o controverso Alien: A Ressurreição (1997), o diretor francês Jean-Pierre Jeunet tentou novamente se firmar em Hollywood com o romântico Eterno Amor, coprodução entre seu país de origem e os Estados Unidos. O resultado, no entanto, mais uma vez frustrou as expectativas, tanto da crítica quanto dos curiosos sobre o trabalho do cineasta. Depois de realizar os intrigantes Delicatessen (1991) e O Ladrão de Sonhos (1995) – ambos na companhia de Marc Caro – Jeunet parecia firme no seu intuito de tentar a sorte na América. No entanto, até hoje seu maior sucesso solo é mesmo O Fabuloso Destino de Amèlie Poulain (2001), que tinha como um dos principais méritos o talento de Audrey Tautou como a personagem-título. E é exatamente com ele que ele voltou a se unir neste trabalho, uma obra que gerou grandes expectativas durante sua produção, mas acabou frustrando até os admiradores mais assíduos do realizador.

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Lembrado em duas categorias – Direção de Arte e Fotografia – no Oscar, Eterno Amor acabou voltando para casa de mãos abanando. Mais constrangedor, no entanto, foi não ter conseguido ser selecionado por seu país para disputar a vaga como um dos melhores Filmes Estrangeiros do ano (no seu lugar foi enviado o emocionante A Voz do Coração, 2004, que ficou entre os finalistas). Além disso, perdeu o BAFTA (o Oscar inglês), o Globo de Ouro, e levou apenas algumas estatuetas menores no César (o Oscar francês), sendo ignorado nas disputas principais. Mas um resultado como esse é merecido? Pelo que se vê na tela, qualquer um com uma visão mais crítica será obrigado a concordar.

Baseado no romance homônimo de Sebástien Japrisot, a trama é épica aos moldes de um …E O Vento Levou (1939). A história nos conta a paixão surgida desde a infância entre Mathilde (Tautou, um tanto perdida entre a heroína romântica ou a noiva sofredora) e Manech (Gaspard Ulliel, premiado como Revelação no César). Com o início da Primeira Guerra Mundial os dois são obrigados a se separar quando ele é convocado às armas. Nas trincheiras, o jovem é acusado de ser um desertor (machuca a mão acidentalmente, o que o impediria de seguir na batalha) e é condenado à morte. Com o sumiço dele, caberá à noiva dar início a uma investigação atrás do seu paradeiro e descobrir, enfim, se ele realmente morreu – e neste caso, onde está seu corpo – ou por que ainda não voltou para casa.

O grande problema de Eterno Amor se dá justamente no centro do seu roteiro – a tal investigação. Ao invés de fixar sua trama no dilema principal – onde está Manech? – o diretor prefere discorrer sobre as mais diversas possibilidades. Ao estabelecer linhas narrativas que investigam os destinos de cada um dos companheiros de guerra do rapaz, a obra acaba se transformando mais num panfleto anti-militar do que em algo envolvente e misterioso. A surpresa da trama vai aos poucos se esvaindo diante tantos enredos paralelos, a ponto da trajetória principal ser esquecida em mais de um momento – temos até Jodie Foster em uma participação pouco justificada. Quando o desenrolar da história finalmente atinge o seu clímax, a sensação de alívio contrasta com o enternecimento e anseio que deveriam ocupar seu lugar. Em resumo: atira-se para tantos lados, que esquecem de mirar no principal: o público.

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Tecnicamente perfeito – trilha sonora, direção de arte, figurinos, fotografia, edição, todos quesitos realmente impressionantes – essa embalagem acaba se revelando um tanto artificial diante o relato que está sendo feito. A impressão que fica é de que a preocupação com o visual ocupou um espaço maior do que o recheio da obra, que certamente mereceria uma atenção maior. No final, o que se tem é um longa plasticamente bonito, mas frio e distante do seu espectador. Pouco apaixonante, Eterno Amor é uma contradição que começa já no título nacional, e encontra referência somente no batismo internacional – Um Noivado Muito Longo –  já que tudo parece tão arrastado que acaba se assemelhando com aqueles casos de noivos que ficam anos juntos, mas nunca chegam ao altar.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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