Crítica
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Sinopse
Um casal briga por conta da infidelidade do marido. Tudo é testemunhado pelo filho adolescente deles. O conflito acaba se desdobrando numa série de violências, descambando para algo destrutivo.
Crítica
Conheci Kim Ki-duk com atraso, somente na época do impressionante Casa Vazia (2004), em que um jovem se aproveita da ausência dos donos e ocupa suas casas. Antes disso, o diretor já havia ganhado as plateias com pelo menos Primavera, Verão, Outono, Inverno... E Primavera (2003). Tendo como característica marcante a ausência de diálogos, o sul-coreano recorre à potência das imagens como a principal ferramenta do seu cinema – e costuma ser bem sucedido.
Quem o conhece, sabe que se pode esperar tudo dos filmes de Kim. Por isso, não é pouco alertar que é com Moebius que o espectador tem o seu estômago colocado em teste mais fortemente. Espécie de drama entremeado por humor negro, a história trata da Mãe (Lee Eun-Woo) que, após descobrir o caso extraconjugal do Pai (Cho Jae-Hyun), trama uma vingança a altura: puni-lo amputando o pênis. A tentativa acaba frustrada e a raiva ricocheteia no Filho (Seo Young-Joo). A perda irreparável não afeta unicamente o psicológico do garoto, que tem de lidar com a zombaria dos colegas, mas atinge igualmente o Pai, em uma terrível crise de culpa.
Em um primeiro momento, o filme parece querer se assentar como crítica a determinados valores sociais, como à valorização excessiva da masculinidade, por exemplo. Falta-lhe, porém, convicção. Sabe-se, ainda, que Kim não se limita à abordagem tradicional. Por isso, o desdobramento de Moebius procura - às vezes de forma exagerada e desajeitada – alternativas para se centrar, mas parece nunca satisfeito. Estupro e incesto são adicionados ao enredo, assim como a busca incessante pela remissão do Pai, seja ao descobrir outras formas do Filho obter prazer, seja por cogitar transplantar o próprio pênis.
É possível que as cenas fortes – não explícitas, prova de que o sugestivo tem alcance maior do que a mostrado - tenham interferido na montagem. O estilo habitual, a privilegiar cenas longas, dá lugar a uma narrativa mais acelerada e entrecortada. A mudança interfere, certamente. Alcança-se o humor com mais facilidade, mas dificulta a retomada nos momentos em que é preciso tratar da angústia do Pai. Sobre atuação, aliás, o destaque fica por conta do trio de atores que domina as cenas com perfeição. Prescindir de diálogos pode ser uma armadilha, aqui contornada pela expressividade e técnica, em especial de Lee Eun-Woo, que se desdobra versatilmente e com propriedade na figura de Mãe e amante.
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