Crítica
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Sinopse
Dois solitários. Juvenal é maquinista de metrô. Margô controla o fluxo dos trens. A amizade como forma de aplacar a solidão no intenso cenário urbano de uma capital.
Crítica
Um encontro fora do eixo. O Homem das Multidões é mais um resultado da longa e construtiva parceria dos cineastas Marcelo Gomes e Cao Guimarães. Fora do eixo, porque ambos são criadores que estão fora do maior centro de produção cultural do país, o eixo Rio-São Paulo. Cao mora em Minas Gerais e Marcelo em Pernambuco. Fora também, porque o cinema que fazem e acreditam não se preocupa com a linguagem clássica, com as respostas rápidas e prontas, mas que instiga a memória e a imaginação. Um cinema autoral. De Cao Guimarães, a fruição do olhar, o tempo necessário para as cenas mais longas. O tempo da vida, da observação, da sutileza dos mínimos detalhes. De Marcelo Gomes, a experiência com um cinema de ficção, fundamentado na linha emocional do filme: a direção de atores. Identidades, semelhanças e dessemelhanças que são complementares.
Trata-se de um filme processo sobre a solidão. Não só dos diretores, mas de atores e equipe de filmagem. Quanto à solidão, esse sentimento cada vez mais presente no cotidiano do homem contemporâneo, nos é apresentada através de duas diferentes maneiras. Juvenal, personagem interpretado pelo ator Paulo André, do Grupo Galpão (MG), foi livremente baseado e construído a partir do conto homônimo de Edgar Allan Poe (1809 – 1849), publicado em 1840. Retratando a cidade de Londres durante o século XIX, o homem das multidões de Poe é um personagem solitário que observa os reflexos da industrialização na vida da população. Tais características servem de base para o homem de Marcelo e Cao, um maquinista paradoxal do Metrô de Belo Horizonte, observador do caos da vida urbana, contemporânea e fugaz. Um homem que gosta e necessita estar rodeado de pessoas, apesar de não desenvolver nenhuma aproximação ou relação. Na multidão o personagem se deixa levar. E ao mesmo tempo, é um homem só.
Seu personagem interage com Margô, interpretada pela atriz Sílvia Lourenço, sua supervisora e trabalhadora no centro de controle operacional do transporte ferroviário. Apesar de envolvida em todas as redes sociais, com inúmeros amigos virtuais, ela não tem amigos reais. É tímida e mantém certa aproximação afetuosa e amorosa com Juvenal, quer estar com ele e se aproxima aos poucos, diante da frieza intimista de Juvenal. Assim, o que vemos na tela é a interação dessas duas formas distintas de estar e se sentir na cidade de Belo Horizonte, grande locação do filme. As experiências vividas pelos personagens são apresentadas em um formato de tela inusitado e esteticamente belo. É um formato quadrado, 3x3. Como uma foto do Instagram, que se assemelha ao modo de vida virtual de Margô, ou então uma Polaroid, próprio da vida analógica e paralela de Juvenal. Nesse sentido, as sensações de aprisionamento vividas pelas personagens, ganham força dramatúrgica através deste olhar diferenciado e restritivo do campo de visão do filme.
Última parte da Trilogia da Solidão de Cao Guimarães, iniciada com A Alma do Osso (2004) e seguida com Andarilho (2007), O Homem das Multidões é repleto de silêncios emocionais. Silêncios que falam através de gestos, de olhares, de pequenas e sutis trocas que nunca são vazias. Um olhar diferenciado sobre sensações e sentimentos presentes em todos nós.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Iliriana Rodrigues | 9 |
Chico Fireman | 7 |
Ailton Monteiro | 7 |
Alysson Oliveira | 7 |
Francisco Carbone | 7 |
MÉDIA | 7.4 |
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