Crítica
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Sinopse
O diretor italiano Gianfranco Rosi parte em busca das histórias das pessoas que vivem à margem de um grande anel rodoviário que contorna a cidade de Roma. Neste universo invisível surgem histórias e personagens fascinantes.
Crítica
Nada menos do que a sala lotada de um dos maiores cinemas do Rio de Janeiro esperava por Sacro GRA. E nem mesmo o atraso de uma hora, em função da troca da cópia, e o tempo de espera na fila foram capazes de prejudicar a determinação do público da sessão noturna. O desafio intensificava o comprometimento. Sem nenhum nome estrelar por trás do elenco ou na direção, o esforço condiz na medida em que o título foi não apenas o vencedor do Leão de Ouro, em Veneza, mas o primeiro documentário na história do prêmio a receber a honraria.
A narrativa se dá por meio de vários núcleos: o enfermeiro de uma ambulância; o botânico que cataloga palmeiras; duas travestis de idade avançada; um nobre decadente; um pescador de enguia; pessoas que avistamos pela janela da mesma forma como elas avistam os outros, etc. Os personagens compartilham de visões peculiares sobre suas profissões e o mundo em um recorte panorâmico, unido unicamente pela proximidade que mantêm com a Grande Raccordo Anulare, uma das principais estradas de Roma.
Enquanto forma de unidade, a estrada é um motivo banal, tão pouco necessário à estrutura, que as histórias bem poderiam ser contadas de maneira independente. O que sustenta e dá vigor ao projeto é a edição. O ritmo empregado por Jacopo Quadri, parceiro habitual do diretor Gianfranco Rosi (Below Sea Level, 2008, e El Sicario Room 164, 2010), consegue dosar e intercalar os momentos de maneira a construir expectativa de que algo substancial se origine das histórias, como acontece em O Som ao Redor (2012), em que as Recifes do diretor Kléber Mendonça Filho fecham uma trama arquitetada com primazia. Ao não dar unidade consistente para o seu conteúdo, Sacro GRA aposta muito na forma, na particularidade de seus personagens, coadjuvantes perenes de um longa sem protagonismo.
Rosi declarou que a inspiração para o composição do projeto veio do livro de Italo Calvino, As Cidades Invisíveis. Tal aspecto ajuda e ilumina o longa. Ainda assim, porém, há nessa referência extremamente indireta a falha em não compartilhá-la com o público, a ponto de obscurecer o filme e contar contra a direção de Gianfranco Rosi, em seu quarto trabalho no gênero. Espera-se de um bom filme que este fale por si só, que encontre sua voz, como sinal de maturidade – espécie de independência da legítima fonte paterna.
Se Sacro GRA conquistou a crítica do festival italiano, cuja tutela do olhar era a do diretor Bernardo Bertolucci (Último Tango em Paris, 1972, e Os Sonhadores, 2003, entre outros), presidente do júri, dificilmente conquistará o público. E isso apesar de conseguir momentos de humor e da série de curiosas observações a partir dos intrigantes personagens retratados.
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