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Sinopse

Família cigana, os Mujić vivem na periferia das cidades mais urbanizadas da Bósnia e Herzegovina. O pai cata metais para prover o sustento de todos. Um dia, a mãe sente uma pontada e descobre que o filho esperado está morto em seu ventre. Mas, o que fazer se ela não tem dinheiro para a operação?

Crítica

Uma família de origem cigana: os Mujic. Nos primeiros instantes do filme, um híbrido de documentário com ficção (os personagens interpretam a si próprios e reconstroem um episódio real) dirigido pelo bósnio Danis Tanovic (vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2002 por Terra de Ninguém), acompanhamos o cotidiano de Nazif Mujic, um pai de família catador de ferro-velho na aldeia Poljice, na Bósnia, sua mulher Senada Alimanovic, dona-de-casa e as duas filhas do casal, as pequenas Sandra e Semsa Mujic.

A câmera na mão acompanha os passos de Mujic na dura rotina de desmontar carros abandonados para sobreviver, nas conversas com a mulher sobre a falta de dinheiro, as meninas brincando na sala diante da televisão. Tudo em um cenário de infraestrutura deficitária e ruas sem asfalto. Situações rotineiras na vida de muitos núcleos familiares que vivem à margem em diferentes partes do mundo. Um retrato de uma sociedade desigual. De repente, um episódio muda de maneira radical as práticas da família. Sangrando e sentindo fortes dores, Senada é levada imediatamente ao hospital por seu marido. Eles recebem a notícia de que o bebê que ela espera está morto. Portanto, se faz necessária uma cirurgia de urgência, uma curetagem uterina, pois ela também corre risco de vida. Uma luta contra o tempo. O que parece natural – ela ser imediatamente encaminhada para o setor cirúrgico do hospital – torna-se uma catástrofe quando a mulher é impedida de realizar a operação, pois não está inscrita no sistema de seguridade nacional. A única solução é o pagamento dos 980 marcos, o custo da cirurgia. A quantia é extremamente alta para Nazif. Ele recebe entre 90 e 180 marcos, apenas, com o que consegue no ferro-velho.

É neste momento que a crueldade de um Sistema de Saúde, que supostamente deveria ser público, nos é apresentado, ainda que não seja discutido abertamente no filme. Mais preocupante, no entanto, é perceber que esta mesma situação ocorre com diversas mulheres, em inúmeros países do mundo. O drama dos Nazif é universal. O diretor não aborda este ponto mas, ao espectador mais atento, é possível fazer a relação entre a situação de extrema pobreza e perseguição em que vivem os ciganos residentes no país e a discriminação racial que sofrem com o tratamento médico a eles prestado. Nazif revela que não os atendem também por conta da cor de sua pele. Entre as idas e vindas de vários hospitais e uma frieza do sistema de saúde local que impressiona e revolta, os dias passam e a situação se torna cada vez mais agonizante e extrema. Nazif procura ajuda em todos os meios, recorre a Associações de Proteção a Ciganos, a outras entidades, mobiliza amigos. Nos constantes deslocamentos aos hospitais, descreve sua vida como um ex-combatente da Guerra da Bósnia, a morte trágica do irmão. Diante de tantas negações e humilhações, porque está fraca e doente, Senada já não sai mais de casa. As tensões aumentam e Nazif se desespera.

Sem encontrar outra saída e correndo contra o tempo, Nazif consegue um cartão de saúde emprestado, de sua cunhada. Nota-se que, se descobertos, as consequências daquele ato podem ser graves. A cunhada de maneira enfática lhe diz que ele deve se responsabilizar por tudo que vier a acontecer relacionado ao caso. Porém nada é mais grave do que a situação de Senada. O casal se dirige a um hospital. Sua identidade é solicitada e ambos descrevem que diante da situação, ela esqueceu os documentos de identificação em casa. A cirurgia é feita. O tempo para os Mujic volta a ter o mesmo percurso de antes. Não sem ter sido profundamente modificado.

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é formada em História pela PUCRS. Cinéfila e documentarista em formação, estudou Documentário na Escola Internacional de Cinema e Televisão de San Antônio de los Baños (EICTV), Cuba. Atualmente é aluna do Laboratório de Produção – Documentário de Criação, promovido pelo Cena Um e integrante da Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte (CASF) em Caxias do Sul.
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