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Crítica


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Sinopse

Abrindo com um poema pessoal e acompanhado por imagens fragmentadas, mergulha no universo de Sade em "120 Days of Sodom". Expresso através da dança, poesia e drama, o filme é uma ilustração de um violento rito de passagem, voluntário ou não, que leva ao caminho do xamã, um caminho de libertação.

Crítica

A arte pode ser perturbadora. Muitos dizem que ela não "pode", mas deve ser, já que instiga e faz quem a aprecia (ou o contrário) questionar o que está à sua frente. No caso de Frig, filme-ensaio de Antony Hickling, cineasta conhecido por ser polêmico e apresentar sexo e violência sem cerimônias. Pois este título cai justamente nesta definição do autor, já que adapta, de forma livre, 120 Dias de Sodoma, obra literária de ninguém menos do que o Marquês de Sade, e que virou filme pelas mãos de Pier Paolo Pasolini em 1975. Talvez uma das produções mais polêmicas da história do cinema. Ou seja, material prévio interessante é o que não falta. Porém, ao ser provocador demais, Hickling transita entre o admirável e o totalmente questionável.

A obra de Pasolini fica em cima de um grupo de jovens que são selecionados por quatro dirigentes fascistas da Itália de Mussolini, um duque e um juiz, para fazerem parte de torturas e experimentos sádicos. A história é dividida em três círculos: Manias, Fezes e Sangue. Já Frig não conta especificamente com um número correto de personagens (ninguém usa nomes aqui), mas dá pra identificar alguns tipos parecidos em suas atitudes com os retratados por Pasolini. Porém, seus três arcos narrativos são bem desenhados, assim como na obra previamente baseada: eis Amor, Merda e Esperma.

O primeiro – e mais curto de todos – é aquele que não revela o rosto do protagonista até seu final. Uma junção de imagens, que vão de paisagens rurais a urbanas, dentro de fora de casas, apartamentos e bares, enquanto um texto em off é narrado sobre uma relação que terminou de forma brutal. Em Merda, já com o protagonista em carne e osso, trancado numa sala (e espiado por si), pode-se imaginar o que acontece. Vários fetiches sexuais extremos são colocados na tela. De fazer necessidades no torturado, plugs anais (dos mais diversos tamanhos), até comer fezes e tomar xixi, a narrativa não se contenta. Sem limites. Até uma vela é acesa para "comemorar" o aniversário de alguém. Detalhe: o objeto é colocado no ânus do protagonista. Já Esperma chega como um alento à sessão tortuosa, graças às belas imagens no gramado (o protagonista já está "liberto", de alguma forma), os corpos nus dançando em sincronia. Um momento de paz.

Aliás, um raro momento no filme, que é frenético em suas ações e intenções. Da tristeza à violência, Frig encerra de uma forma bela. Porém, isto não é um spoiler, pois a história contada é totalmente subjetiva, aberta a imensas interpretações. Pode ser o retrato do inconsciente de um homem torturado pela dor da perda do amado, precisando ir ao fundo do poço para, então, renascer. Só que também pode ser nada tão óbvio e gerar as mais variadas discussões. É aquele legítimo exemplar "ame ou odeie", com preferência para o último no caso do público que possa estar esperando apenas um pouco de violência e sexo comerciais. A narrativa aqui é nua e crua (literalmente até). Incomoda. Muito. Só que, após tantos anos de cinema e títulos tão ou mais perturbadores quanto este, parece que seu diretor queria apenas chocar sem ter tanto conhecimento prévio do que já foi realizado. E o choque causado pode acabar sem sentido, dependendo de quem assiste.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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