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Sinopse

William Cutting é lider de uma violenta gangue que aterroriza Nova Iorque no século 19. Um jovem que teve o pai assassinado por William jura vingança, mas ao se aproximar do temido sujeito começa a se sentir fascinado por ele.

Crítica

No início dos anos 1970, Martin Scorsese descobriu o livro The Gangs of New York: An Informal History of the Underworld, escrito em 1928 por Herbert Asbury com base no cenário histórico e político da cidade norte-americana no século 19. Enquanto percebia o potencial épico de uma narrativa sobre a batalha pela democracia moderna nos Estados Unidos, Scorsese amargava sua juventude como um cineasta sem dinheiro ou reputação. No final da mesma década, depois do êxito de Caminhos Perigosos (1973) e Taxi Driver (1976), o diretor poderia filmar a história que quisesse. No entanto, seu Gangues de Nova York surgiu apenas 30 anos mais tarde.

Depois de um considerável período extra na sala de edição, Scorsese elegeu 168 minutos para contar esta história ambientada em 1846, quando imigrantes irlandeses chegavam à Nova York e rapidamente eram hostilizados por cidadãos britânicos e dinamarqueses, radicados no país primeiramente. Assim nasceram as gangues indicadas no título do filme, uma delas liderada pelo excêntrico Bill, o Açougueiro, que assassina impiedosamente o pai de um jovem garoto. Interpretado por Leonardo DiCaprio em sua primeira parceria com Scorsese, seu personagem, Amsterdam, retorna ao local 15 anos depois para buscar sua vingança. A entidade Daniel Day-Lewis e DiCaprio protagonizam como os antagonistas perfeitos de uma batalha na qual, obviamente, apenas um poderá permanecer vivo.

Com os direitos da obra de Asbury adquiridos ainda nos anos setenta, Scorsese optou por iniciar a produção da obra apenas quando houvessem artifícios satisfatórios para reproduzir fielmente a paisagem nova-iorquina com estilo e minúcia nos detalhes. Seu objetivo foi concretizado a partir do empenho do mestre Dante Ferretti no design de produção e com os notórios estúdios italianos Cinecittà, em Roma. Com estética de um clássico instantâneo, o filme recria uma extensa área da antiga Manhattan, com destaque para a pobre região conhecida como Five Points, onde toda a ação da produção transcorre. A fotografia deslumbrante de Michael Ballhaus e os figurinos assinados por Sandy Powell beneficiam a plasticidade de Gangues de Nova York e tornam seu êxito técnico ainda mais admirável.

A excitação de Scorsese com seu enredo e ambientação repletos de ineditismo é evidente ao espectador mais atento, que percebe as múltiplas referências deste enciclopédico cineasta num encontro entre o Western e o cinema de gângster – gênero este no qual o diretor é há muito fluente. Obras-primas de Sergio Leone e Luchino Visconti foram apontadas como as grandes inspirações de Gangues de Nova York, porém Scorsese foi capaz de traduzir suas alusões cinematográficas numa produção acessível, que se vale da trilha pautada na percussão e da alternância entre ação e romance para falar diretamente o idioma do blockbuster.

A totalidade de Gangues de Nova York pode não valer mais do que a soma de suas qualidades, porém são justamente tais qualidades que tornam inegáveis os méritos do filme – o maior deles, sem dúvida, é Day-Lewis. Seu Açougueiro exagerado e cartunesco é estranhamente encantador e sofregamente humano. A direção de Scorsese é mais uma vez excelente; sua atenção aos detalhes, somada a suas intenções épicas, garantem momentos magníficos, seja na sequência da batalha que abre o filme ou no clímax visceral do mesmo. O valor desta obra foi muito bem mensurado em suas 10 indicações ao Oscar, porém o fato do filme não ter recebido troféu algum na premiação evidencia sua irregularidade.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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