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Sinopse

Sete anos após escapar da prisão, o Dr. Hannibal Lecter trabalha na biblioteca de uma distinta família italiana, transitando livremente pela Europa. A agente Clarice, com quem ele mantém um vínculo, será utilizada para atraí-lo aos braços de uma vítima do passado que deseja vingança.

Crítica

Continuação do clássico e oscarizado O Silêncio dos Inocentes (1991), Hannibal era ansiosamente aguardado nos cinemas em 2001, ano de sua estreia. Conduzido por Ridley Scott – muito mais famoso que Jonathan Demme, responsável pelo longa anterior – a sequência chegou aos cinemas com ares de blockbuster. E isso talvez seja o que tenha de mais legal: embora uma produção grande e bem cuidada, o diretor manteve seus ares de filme B, o que satisfaz quem curte esse tipo de cinema, mas irrita alguns fãs da franquia baseada nos livros de Thomas Harris.

A trama, bastante simples, é sobre Hannibal (Anthony Hopkins, voltando ao seu mais emblemático personagem), o canibal mais famoso do cinema e da literatura. Após ajudar a agente Clarice Starling (agora a sempre competente Julianne Moore, assumindo a ingrata tarefa de substituir uma insubstituível Jodie Foster) a capturar um criminoso – como visto em O Silêncio dos Inocentes – Hannibal ganhara a liberdade. Solto no mundo, o serial killer acaba voltando “às origens” para perseguir a policial.

Em primeiro lugar, vale lembrar que, embora estruturados como uma trilogia, que seria concluída com Dragão Vermelho (2002), estes três filmes não são as únicas adaptações feitas para o cinema a partir dos livros de Harris. Em 1986, Caçador de Assassinos, dirigido por Michael Mann, trouxe Hannibal para as telonas pela primeira vez. É claro que com muito menos notoriedade e impacto, o que talvez se deva ao fato de seu intérprete ter sido um insosso Brian Cox. Nesse sentido, desde já o mérito de Hopkins deve ser reconhecido. O veterano deu à Hannibal não apenas sua imagem célebre (careca, elegante e de voz suave), como também uma alma inconfundível, que vai desde o olhar concentrado e penetrante até a forma afetada como gesticula e explica seus planos maquiavélicos.

Outro ponto interessante é que em 2001 – e nem parece tanto tempo assim! – produções gore, ou seja, terror gráfico, exibindo partes e restos humanos, não eram algo muito comum. Salvo um Sam Raimi aqui ou um George Romero acolá, o cinema era comedido em mostrar cérebros e entranhas, tanto por uma questão de bom gosto como porque tornar esse efeito verossímil era uma coisa complicada antes da computação gráfica. Não é por acaso que há uma relação direta entre o gore e os filmes B. Mas Ridley Scott assume seu Hannibal como um canibal que, portanto, trata o mundo como seu açougue, temperando a ação com gore o bastante para chocar as plateias da época – hoje em dia, depois de Jogos Mortais (2004), temos algo que qualquer adolescente de 14 anos acharia comum. Mas, na época, a classificação foi a mais restritiva (Rated R) nos EUA, só pra se ter uma ideia. Algo que o diretor deve ter trazido de herança de seu Alien: O Oitavo Passageiro (1979).

Scott também faz um trabalho competente em construir tensão ao longo da trama, contando com uma montagem eficaz. No entanto, mesmo com a cena de perseguição às cegas no porão mimetizando o que já havia sido feito no clímax de O Silêncio dos Inocentes, o primeiro ainda se sobressai quando o assunto é deixar o espectador sem fôlego. Isso talvez ocorra porque Hannibal é muito menos cinematográfico e muito mais operístico do que seu antecessor, ou mesmo do que a maioria dos títulos de seu gênero. O diretor aproveita o gosto do seu protagonista por ópera – inclusive na primeira cena – para criar uma fotografia de iluminação teatral, jantares coloridos e exagerados e personagens que, especialmente nos momentos em que Hannibal domina a tela, transitam por todo o espaço cenográfico, de forma pouco natural, mas bastante adequada à linguagem operística. A impressão de que Hopkins começará a cantar uma ária ocorre mais de uma vez ao longo das pouco mais de duas horas de duração. Se por um lado isso dá uma cara única ao projeto, também o torna um pouco mais lento e indireto do que um suspense convencional.

Os fãs do material original costumam reclamar do final, que difere bastante daquele do livro. Nada que seja um problema para a trama, no entanto, inclusive tendo em vista a sequência que viria em seguida. Ao fim e ao cabo, embora Hannibal seja divertido e criativo, além de bem realizado, só supera seu predecessor no marketing envolvido em seu entorno. Até porque, superar um filme tão bom quanto O Silêncio dos Inocentes é, de qualquer forma, uma tarefa complicada. Vale a pena conferir o longa pela forma bastante interessante com que Ridley Scott cruza ópera e cinema B para criar uma obra que, se não atinge a excelência, tem lá seus flashes de originalidade e uma farta dose de competência. Que nem o Hannibal, aliás.

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é jornalista, mestre em Estética, Redes e Tecnocultura e otaku de cinema. Deu um jeito de levar o audiovisual para a Comunicação Interna, sua ocupação principal, e se diverte enquanto apresenta a linguagem das telonas para o mundo corporativo. Adora tudo quanto é tipo de filme, mas nem todo tipo de diretor.
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