Crítica
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Sinopse
Filmado ao longo de um ano em 23 países, segue uma corrente de histórias que se espalha pelo mundo em países como Afeganistão, Bangladesh, França, Grécia, Alemanha, Iraque, Israel, Itália, Quênia, México e Turquia. Uma busca desesperada por segurança, abrigo e justiça: dos campos de refugiados lotados a perigosas travessias pelo oceano e fronteiras delimitadas por arames farpados; do deslocamento e da desilusão à coragem, resistência e adaptação; da ilusão de deixar vidas para trás ao potencial desconhecido do futuro.
Crítica
Em determinada sequência de Human Flow, um dos longas de maior expressão do artista chinês Ai Weiwei, um tigre acaba invadindo uma área dedicada a pessoas que não tem para onde ir. O animal ali foi parar fugindo da interferência humana, e ao escapar de um lado, acaba se vendo envolto em outra armadilha. Sem saberem o que fazer com o visitante inesperado, homens e mulheres se unem em um mutirão internacional, envolvendo lideranças de mais de um país, não só para tirá-lo daquela situação, mas também para encaminhá-lo até um ambiente seguro, mais próximo do seu habitat natural. Um cuidado que, verifica-se, está muito longe daquele registrado a muitos seres humanos. E são esses, refugiados das mais diversas origens, os verdadeiros protagonistas deste documentário que se propõe a levantar vários pontos de debate, sem se preocupar, no entanto, em respondê-las. Até porquê este é um assunto em aberto, que não permite debates sucintos e ingênuos.
Ai Weiwei é um dos mais importantes artistas da China contemporânea. No entanto, está proibido de pisar no seu país-natal, acusado de traição por ousar fazer aquilo que muitos cada vez mais se esforçam em abafar: pensar, provocar, refletir. Designer arquitetônico, artista plástico, pintor, comentarista, ativista social e, por último, cineasta, Weiwei encontra-se atualmente baseado em Berlim, porém basta se aproximar dele para entender que sua casa, de fato, é o mundo. Movido por essa curiosidade, decidiu dedicar anos de sua vida a percorrer mais de duas dezenas de países para acompanhar de perto os atuais movimentos migratórios humanos. Quem são, portanto, estes indivíduos das mais diferentes idades, nacionalidades, credos e raças que se prontificam a abandonar tudo o que sempre conhecerem e partir, com nada mais do que aquilo que conseguem carregar nos braços, rumo ao desconhecido? Em mente, apenas uma coisa em comum: a busca por uma vida melhor.
Especula-se que mais de 65 milhões de pessoas se encontram refugiadas por todo o mundo neste exato instante. Não entendemos, no entanto, como esse número pode ser tão preciso, e o que levou todas estas pessoas a abandonarem suas casas. Guerras, perseguições religiosas e oportunidades financeiras estão entre as causas mais prováveis, e não precisa ser nenhum gênio para chegar a tal conclusão. Portanto, Weiwei, sabiamente, não perde tempo com isso. Seu foco está nos principais afetados. Naqueles que atravessam mares em balsas frágeis, enfrentam desertos sem a menor segurança ou se sujeitam a condições subumanas baseados apenas em promessas que pode ou não se concretizar. Homens e mulheres, crianças e idosos. Higiene, alimentação, escolaridade, trabalho: tudo isso é deixado de lado. O que importa, é sobreviver. E até que isso seja possível, o percurso será tortuoso e inesperado. E nem sempre com um final feliz no horizonte.
Ressente-se, durante a narrativa, de uma visão mais global da situação a qual Ai Weiwei decide se debruçar. Human Flow parece estar interessado apenas no mais óbvio. Assim, o que vemos são os sírios e os africanos dispostos a tudo para ingressarem na Europa, assim como, ocupando um espaço mínimo neste todo, vislumbramos o drama de um ou outro mexicano disposto a tudo para pisar em solo norte-americano. Após as mais de duas horas de projeção, permanece a impressão de que não há refugiados nas Américas Central e do Sul, na Oceania, no Sudeste Asiático, no Leste Europeu ou mesmo internamente na África. Seu caráter global soa, num primeiro instante, bastante abrangente, mas qualquer leitura mais minuciosa de um jornal diário irá apontar um mapa muito mais amplo.
É interessante perceber como Ai Weiwei também não se exime em ocupar o posto de protagonista, volta e meia marcando presença em frente à câmara, seja assumindo sua postura natural de diretor, ou mesmo diante de outras tarefas, como prestando uma ajuda imediata ou preparando um rápido churrasco. Estas interferências não seriam problemáticas, caso discretas ou providenciais ao tema em questão. Porém, quando indagado se ele próprio é um refugiado, seu discurso parece esquivar-se de uma resposta imediata. Isso verifica-se com maior ênfase na passagem em que simula uma troca de passaportes, oferecendo o seu a um jovem turco. O documento do realizador lhe permite ir a qualquer lugar do mundo, enquanto que o outro, pouca serventia possui. O desconforto que tal situação provoca não passa despercebida, a ponto do cineasta ter que se desculpar logo em seguida. “Eu lhe respeito”, afirma. Mas, assim como muito do que é ofertado a estes habitantes sem pátria por governantes desprovidos de escrúpulos, de que adiantam palavras quando as ações dizem o contrário? Human Flow, é fato, tem seu valor enquanto documento. Mas talvez lhe fizesse bem um apuro maior. Menos, como se sabe, muitas vezes é mais. Principalmente diante daqueles que nada tem a não ser suas próprias histórias.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 6 |
Wallace Andrioli | 6 |
MÉDIA | 6 |
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