I Love You. Thank You.
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Charliebebs Gohetia
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I Love You. Thank You.
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2015
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Filipinas
Crítica
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Sinopse
Crítica
Em um dos diálogos que se tornaram icônicos no clássico Bonequinha de Luxo (1961), o galanteador Paul Varjak (George Peppard), em um arroubo de paixão se declara para a diva Holly Golightly (Audrey Hepburn) com um profundo “eu te amo”, apenas para ouvir como resposta um sincero “obrigado”. A conversa entre os dois pode ter se tornado referência entre relacionamentos de início conturbado – afinal, se ela sentisse o mesmo naquele instante, lhe retornaria com um “eu também” – mas nem toda narrativa que a use como inspiração está à altura do mesmo discurso. É o caso desta co-produção asiática entre Tailândia, Filipinas, Camboja e Vietnã, que já escancara no título as frases I Love You. Thank You., talvez para contar desde o princípio com a simpatia dos familiarizados com a versão original. No entanto, basta conferir o resultado visto em tela para perceber que ele está mais próximo de uma novela mexicana gay do que da sutileza e da elegância do romance de Truman Capote.
Assim como na Quadrilha de Carlos Drummond de Andrade, em que João amava Teresa, que amava Raimundo, que amava Maria, que amava Joaquim, de amava Lili que não amava ninguém, o mesmo se dá na história escrita e dirigida por Charliebebs Gohetia. Esta versão, no entanto, é completamente masculina. Tang (Ae Pattawan) se encanta à distância por Paul (Joross Gamboa), que mora com o melhor amigo, Red (Prince Stefan), por quem é secretamente apaixonado. Só que este é louco pelo namorado, Ivan (CJ Reyes), que na verdade está em crise, sem saber ao certo o que quer da vida. E entre um início de namoro e o fim de outro, novas possibilidades românticas se darão entre os quatro rapazes, todas construídas a partir de sentimentos confusos, como ciúmes, solidão, carência e desejo.
Em resumo: a impressão que o espectador tira do enredo de I Love You. Thank You. é que ninguém, de fato, gosta do outro. Os envolvimentos entre eles são muito superficiais e gratuitos, como se cada personagem não tivesse o menor aprofundamento psicológico. Tang cruza apenas uma vez em um trem com Paul e já está certo de ter encontrado o amor de sua vida. Paul sofre por Red em uma relação quase masoquista, pois esse só tem olhos para Ivan. E este se declara ‘sufocado’ por tanto amor, preferindo fugir sem deixar vestígios ao invés de lidar com a evidente necessidade do outro em sobrecarregá-lo de gestos e demonstrações de carinho e afeto. Muito disso, claro, vem do fato de estarmos diante de adolescentes e jovens adultos, tipos instáveis e vulneráveis, adeptos à mudanças radicais e sem refletir sobre as consequências de seus atos. São pessoas prontas para errar, e assim fazem. Lamenta-se, no entanto, o fato do próprio diretor não perceber isso, pois os trata com a mesma seriedade e dramaticidade que as figuras ficcionais envolvidas: como se cada rompimento ou aceitação fossem eternos, indo do ‘felizes para sempre’ ao ‘fim do mundo’ em questão de instantes.
Para piorar a situação, I Love You. Thank You. tem sua trama defendida por um quarteto de atores completamente inaptos de executar com o mínimo de consistência a dramaticidade exigida pelos acontecimentos que se desenrolam. O pior é Joross Gamboa, que faz de Paul – o protagonista – uma criação antipática e inverossímil, com o qual o espectador não consegue se identificar em nenhuma das suas decisões. No outro extremo está Prince Stefan, que é o mais exigido pela montanha russa de emoções pela qual Red atravessa. Ele nem sempre consegue atender as exigências de seu personagem, mas ao menos está visivelmente esforçado. O conjunto, no entanto, vem abaixo quando nos deparamos com frases como “acabei de ver o mais belo sorriso, que fez meu coração derreter” ou “a questão de sofrer por amor é que este é um ato que vicia”, ou seja, tudo muito brega e constrangedor. Falta sutileza, tanto nos bastidores como também em cena.
Mas nem tudo é descartável, e se há algo positivo em I Love You. Thank You. é o fato de que em nenhum momento se problematiza a homossexualidade dos personagens. São rapazes jovens, bonitos, desenvoltos, que enfrentam questões práticas, tanto com suas famílias como no trabalho, e nem por isso deixam de amar e serem amados. Poderiam ser meninos e meninas, ou até mesmo apenas garotas, que não faria a menor diferença para a história a ser contada. Essa naturalidade ao abordar a natureza sexual dos envolvidos merece ser apontada, ainda que seja um dos únicos pontos que se salvam de todo o projeto. Afinal, comédias românticas ruins não são exclusividade da visão mais tradicional de Hollywood.
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