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Sinopse

No interior do Brasil convivem o arcaico e o moderno. Uma família é atravessada por desejos e repressões.

Crítica

Há um momento em Introdução à Música do Sangue em que a personagem de Greta Antoine – quase uma sósia de Débora Falabella – ao fim de um dos longos planos empregados pelo diretor Luiz Carlos Lacerda, se embala num balanço usando um vestidinho que é da mesma cor do jarro de água que ela manuseia no início do longa-metragem. Ali teria sido o momento ideal para encerrar o filme. A ligação entre as duas cenas? Vai saber! Mas ao menos haveria uma conversa (talvez de símbolos) entre o começo e o fim a ser debatida – o que é muito mais que todo o miolo oferece.

Lento desde os créditos iniciais, Introdução à Música do Sangue parece querer transmitir através dessa abordagem a atmosfera pacata e modorrenta de seus personagens. Mas se era esse o seu objetivo, Lacerda, que assina como roteirista também, deveria ter preenchido o clima - que estabelece com admirável segurança – com algum conteúdo. Como não é o caso, sem uma história, o pacato e o modorrento acabam se voltando contra o espectador. A trama gira em torno de uma fazendinha onde moram Uriel e sua esposa costureira (Ney Latorraca e Bete Mendes, respectivamente) e junto com eles uma jovem garota chama Maria Isabel (Antoine). Sem eletricidade, em meio às rotinas do meio rural, as coisas começam a mudar com a chegada de um peão (Armando Babaioff) que encanta Maria, ela que é uma tentação sexual para Uriel, agricultor decidido a não deixar que a eletricidade chegue no lugarejo.

E é só isso. Adaptando o escritor Lucio Cardoso depois de ter iniciado carreira levando um de seus textos para o audiovisual, Luiz Carlos Lacerda obviamente tenta emular o estilo do escritor à linguagem cinematográfica. E admitamos, são muito bonitos os planos introspectivos e reflexivos que o cineasta emprega com frequência, apostando em takes longos que entram e saem da casinha, tudo filmado sob luz natural. Mas quando nos damos conta de que Maria Isabel varrendo folhas do pátio não quer dizer mais do que Maria Isabel varrendo folhas do pátio, perdemos completamente o interesse em desvendar ou em mergulhar em alguma possível subjetividade que, sejamos sinceros, não existe. “Não quero eletricidade”, diz o personagem de Ney Latorraca. “Facilitaria tanto ter uma máquina elétrica de costura”, diz a de Bete Mendes. Enquanto Greta Antoine só faz colher frutas e sorrir bonitinha por aí. O resto são repetições da mesma dinâmica. Então o longa fala sobre o quê? Os conflitos entre o velho e o novo? É isso que Lacerda quis dizer ao contrastar a pele branca e lisa de Maria Isabel com o ambiente precário em que ela vive? Mas daí ele estender esse conceito de limpeza a todos os personagens com figurinos impecáveis e sempre incomodativamente claros – que podem ser explicados pela dedicação da costureira dona da casa - não banaliza essa construção que usa a garota como símbolo do novo?

Conclui-se, então, que não há uma camada a ser descoberta e a história jamais é desenvolvida com maior profundidade. Lembrando que mesmo um argumento simples pode ser desenvolvido com grande impacto. Todas as figuras são unidimensionais e não se justificam enquanto tipos monocórdios, mesmo encarnados com talento por Latorraca e Mendes. Tudo é muito óbvio desde o início e, de fato, não há reviravoltas. Surpresa mesmo é constatar que Lacerda pensa que precisamos de um longa-metragem inteiro para absorver sua ideia. Talvez funcionaria melhor como um curta-metragem. Aqui, com suas arrastadas hora e meia de duração, é apenas entediante e embaraçoso.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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