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Sinopse

Tentando reanimar a relação e obter um pouco de descanso, Lauro e Renata decidem se refugiar numa casa na região serrana do Rio de Janeiro. Ele escuta histórias macabras sobre o local, mas não divide nada com ela.

Crítica

Há algo de inédito no novo longa-metragem dirigido por Tomas Portella, filme de abertura do 42º Festival de Cinema de Gramado. Suspense que não nega o gênero desde sua introdução, Isolados busca na tradição de outras obras referências imagéticas, sonoras e estéticas de um cinema que não é realizado regularmente no Brasil. O resultado, que apresenta algo do tom psicológico de Ilha do Medo (2010) e do ritmo de slashers franceses contemporâneos, como Alta Tensão (2003), se resume apenas nas boas intenções de sua equipe. E este ineditismo anunciado termina antes mesmo de que a produção atinja qualquer nota memorável que ultrapasse seu tempo de projeção.

Protagonizado por Bruno Gagliasso e Regiane AlvesIsolados possui a mesma premissa de incontáveis filmes – alguns excepcionais, como Violência Gratuita (1997), e outros esquecíveis, como Temos Vagas (2004). Nele, um casal busca refúgio numa casa de campo, afastada de tudo e todos, na região serrana do Rio de Janeiro, e insiste na reclusão mesmo quando é informado de uma ameaça na região, onde diversos crimes ocorreram nos últimos tempos. Na mata fechada que envolve a casa de campo onde se hospedam, dois homens têm assassinado e violentado mulheres – nesta ordem – enquanto a polícia descobre mais corpos e menos pistas sobre os crimes.

Iniciado num plano sequência interessante e bem fotografado por Gustavo Hadba, a produção segue um roteiro esquemático de Mariana Vielmond, constantemente interrompido por cenas, personagens e flashbacks desnecessários. O principal problema de seu texto está no desenvolvimento da relação de Lauro e Renata, casal protagonista, que carece de qualquer credibilidade. Quando há alguma interação mais profunda entre ambos e o espaço claustrofóbico no qual estão inseridos, o espectador é direcionado para cenas ambientadas em outros espaços e tempos completamente gratuitas – o que rompe por completo com a construção gradativa de suspense e tensão que o filme se propõe em apresentar.

A interação entre a dupla de atores principais também sofre com o ritmo inconstante do filme. Bruno Gagliasso carrega alguma petulância característica de outros trabalhos seus para a composição de Lauro, enquanto Regiane Alves aposta na fragilidade e vulnerabilidade que sua beleza e carisma lhe permitem desenvolver com naturalidade. Ainda assim, há descompasso na transformação de seus personagens: quando os papeis se invertem, com Lauro se tornando descontrolado e obsessivo e Renata morbidamente serena, as performances da dupla se perdem. Gagliasso é quem mais sofre e sua histeria no terceiro ato do filme beira o risível.

A direção de Portella não resolve ou distrai dos muitos problemas de Isolados, porém os amplifica. Enquanto opta por seguir seus personagens de perto e destacar o drama que os assola, em outros momentos o diretor se perde em perspectivas subjetivas que beiram o absurdo, como nas sequências de perseguição. Nesses segmentos pretensamente mais aflitivos e até mesmo em outros sem muita ação, uma trilha sonora condutora e constante mais entorpece e afasta do que colabora com o todo.

O cineasta também acaba por evidenciar as lacunas do roteiro de Vielmond, que se vale de personagens secundários sem muito critério e se livra dos mesmos a todo momento – o que acontece com a zeladora da casa de campo e o médico interpretado por José Wilker, por exemplo. A participação de Wilker, inclusive, aqui em seu último trabalho completo para o cinema antes de falecer, parece não possuir outra justificativa além dele ser o pai da roteirista. Sua pequena figuração também parece ser a única razão para a programação do filme na abertura do Festival de Gramado, que dedicou um momento para homenagear o ator.

Responsável pelo sucesso de bilheteria Qualquer Gato Vira-Lata (2011), que levou mais de 1 milhão de espectadores aos cinemas e tem uma sequência garantida para 2015, Tomas Portella tinha pouco mais de R$ 1 milhão em orçamento e muitas pretensões com sua nova realização. No entanto, o que poderia ser um interessante estudo de gênero termina como uma reciclagem de ideias triviais e apelativas. Na contramão, títulos como Trabalhar Cansa (2011), O Lobo Atrás da Porta (2013) e Quando Eu Era Vivo (2014), felizmente, provam que há inteligência e invenção no suspense brasileiro.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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