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Sinopse

Edna é mãe de Julio e Sílvio. Certo dia acorda desesperada ao perceber que Julio simplesmente desapareceu sem deixar pistas. Em busca do seu paradeiro, se aventura no submundo do tráfico de drogas determinada a juntar dinheiro para pagar o resgate do rapaz.

Crítica

Julio Sumiu. Mas para onde teria ido o rapaz? É esta a pergunta que não sai da cabeça da matriarca da família, Edna (Lilia Cabral), ao se dar conta do desaparecimento do filho. Eustáquio (Dudu Sandroni), seu marido, não faz ideia do paradeiro do rapaz. Muito menos Sílvio (Fiuk), irmão de Julio, jovem  mais preocupado com maconha do que com sua família. Será que ele fugiu de casa? Foi sequestrado? Para averiguar, Edna irá às últimas consequências. Até fazer pacto com um perigoso bandido do morro, que atende pelo nada simpático nome de Tião Demônio (Leandro Firmino). A polícia também é colocada na mistura. O corrupto detetive J. Rui (Augusto Madeira) é incumbido de achar o rapaz. Mas encontra, no lugar, uma oportunidade de ganhar dinheiro fácil quando descobre uma nova boca de fumo funcionando num bairro familiar do Rio de Janeiro. Quem é responsável pela boca? Ninguém mais, ninguém menos que Edna e seu filho, que precisam vender cocaína para que Julio não seja executado por Tião. Mas será que é isso mesmo?

Baseado no livro homônimo do ex-Casseta e Planeta Beto Silva, Julio Sumiu é mais uma comédia nacional que chega aos cinemas esperando repetir o sucesso dos demais filmes do gênero. Potencialidade o longa-metragem tem. Resta saber se o público vai embarcar nesta comédia com toques de filme policial. Roberto Berliner é o diretor de Julio Sumiu e conseguiu um bom elenco para defender os personagens de Beto Silva, que também assina o roteiro ao lado de Patricia Andrade.

A começar por Lilia Cabral, atriz que deu uma guinada na carreira na última década, emplacando protagonistas em novelas e no cinema. Depois do sucesso em Divã (2009), Cabral retorna à telona como uma mãe de família carola que vai mudando seu comportamento com o desenrolar da trama. Desesperada com o desaparecimento do filho, Edna vai a extremos para reaver Julio. Com isso, tem contato com um lado da sociedade que nunca havia visitado. Seu encontro com Tião, seus diálogos com o detetive J. Rui e o fato de ter de atender alguns clientes da boca de fumo que comanda vão transformando aquela dona de casa em uma pessoa destemida, endurecida. Até seu linguajar sofre mudanças. Lilia Cabral é o verdadeiro destaque de Julio Sumiu por conseguir mostrar esta metamorfose que passa sua personagem.

Importante ressaltar a presença de Leandro Firmino, eterno João Pequeno de Cidade de Deus (2003), filme que é citado em um diálogo divertido entre o ator e Lilia Cabral. Ainda que defenda um personagem que está do lado do crime, seus encontros com Edna acabam sendo os pontos mais engraçados da história. E como a polícia consegue ser tão suja quanto os traficantes, torcer para Tião Demônio não soa nada exagerado. Fiuk prova ser melhor ator do que cantor (algo não muito difícil, fato que já havia demonstrado em As Melhores Coisas do Mundo, 2010) e Carolina Dieckmann aposta na sensualidade ao viver de forma deliciosamente vulgar a volúvel Madalena – personagem não tão distante do que já havia feito em novela da Globo.

O elenco consegue carregar bem o filme, mas infelizmente as piadas não são tão fortes quanto a atmosfera de diversão que o longa-metragem tenta imprimir. Ninguém sairá gargalhando. Talvez um sorrisinho aqui e ali Julio Sumiu consiga arrancar. Roberto Berliner, diretor premiado de videoclipes, imprime um pouco da linguagem MTV em seu trabalho, mas no que ganha em agilidade, perde em timing cômico. Um problema sério quando estamos falando de uma comédia. Ao menos, a direção de arte consegue afastar um tanto este filme de um programa de televisão, principal problema das comédias nacionais. Ainda vemos enquadramentos televisivos, mas o desenho de produção e, principalmente, o linguajar dos personagens separa Julio Sumiu de um especial global.

A trama é sustentada por diversos mal entendidos, do tipo que seriam resolvidos facilmente com um diálogo entre os personagens, enfraquecendo o filme. Mas é curioso saber que a resposta do mistério do título esteve na nossa cara logo de início. Um boa tirada dos realizadores do longa, já que é de se imaginar que esta gag, bastante visual, não estivesse no livro. Com participações especiais rápidas de dois ex-Cassetas – o próprio Beto Silva e Helio de La Peña – e uma trilha sonora que vai de Wando a Pata de Elefante, Julio Sumiu deve agradar a um público que não demanda grandes invencionices de uma comédia nacional, de um passatempo de final de semana. Só não vale dizer que “pra cinema brasileiro está bom”, como os próprios personagens vaticinam em uma cena pós-créditos, ao final do longa. Afinal de contas, isso é mais insulto que elogio.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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