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Sinopse

Na fossa mais profunda do Oceano Pacífico, a tripulação de um submarino fica presa após ser atacada por uma criatura pré-histórica que julgavam estar extinta: um tubarão de mais de 20 metros de comprimento, o Megalodon. Para salvá-los, um oceanógrafo chinês contrata Jonas Taylor, mergulhador especializado em resgates de águas profundas.

Crítica

O protagonista de Megatubarão é Jonas (Jason Statham), típico herói despedaçado psicologicamente por um infortúnio do passado. Neste caso, o que pesa em seus ombros é a culpa por ter deixado amigos morrerem durante uma operação de resgate submarino - não que o filme se aprofunde nisso, diga-se. Desligado do meio, o mergulhador permanece alheio ao que acontece numa altamente tecnológica estação de estudos oceânicos, alguns anos adiante. Ultrapassando limites, a tripulação diminuta submerge a um ponto nunca antes visitado, encontrando novas espécies de fauna e flora, mas também um inimigo sem precedentes. Claro, vai sobrar para o sujeito, até então torturado, carregar o fardo de voltar do auto-exílio para salvaguardar a integridade física dos pesquisadores. O longa-metragem de Jon Turteltaub parte, assim, de uma premissa surrada, levemente destacada das similares por conta do vilão, um tubarão gigantesco, de praticamente 30 metros, que se comporta como uma besta-fera empenhada em destruir e matar o que vê pela frente, principalmente gente.

Assim como todo filme espacial nos remete imediatamente a 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), os focados em algozes marinhos, mais precisamente os tubarões, estabelecem um link direto com Tubarão (1975). Mas, diferentemente da realização de Steven Spielberg, preciosamente dirigida, montada e sonorizada para que, mesmo sem a presença física do predador, possamos sentir a violência de sua espreita, aqui o cineasta aposta todas as suas fichas na opulência literal da ameaça que parece invencível. No que tange especificamente à linguagem, ela é bastante pobre, sobretudo nas tentativas de produção de sentidos e pretensas atmosferas carregadas. O transcorrer da trama propriamente dita é marcado por uma banalidade sintomática, com o retorno de um pária, logo essencial à missão que beira o impossível, laços amorosos forçados e artificiais, que encontram tempo para se desenvolver em meio a uma batalha de proporções inimagináveis, e pessoas personificando o mal do mundo, vide o patrocinador Morris (Rainn Wilson).

Megatubarão é pirotecnia, ideal para exibição nos complexos cinematográficos em que o atributo técnico prevalece ao conteúdo. Quanto à esfera humana, por exemplo, ela fica restrita a um amontoado de arquétipos convivendo forçosamente em virtude dos isolamentos na água. Óbvio que o tamanho e a voracidade do megadonte impressionam, mas a falta de espessura dramatúrgica, bem como a direção frouxa, enfraquecem até a capacidade de entretenimento. Statham é um astro de ação carismático, que dá conta do recado, senão como interesse amoroso de Suyin (Bingbing Li), a pesquisadora chinesa, âmbito em que demonstra severas restrições. Elementos como a presença da ex-mulher são irrelevantes, apenas servindo convenientemente para justificar a rápida desistência da aposentadoria, como se o dado prévio validasse por si a decisão intempestiva e nobre. As cenas submarinas são filmadas de perspectivas ordinárias, com poucos instantes realmente tensos.

Tentando (sem sucesso) enxertar alguns fragmentos de humor e/ou leveza, a fim de adequar a abrangência ao maior número possível de públicos, Megatubarão, embora apresente sangue e mutilações em certos momentos, cria um ambiente cinematográfico anódino e esterilizado, no qual os personagens principais habitam calmamente. Coadjuvantes caem como moscas, sucumbindo à voracidade do megadonte, animal pré-histórico, na medida em que as figuras principais somente ensaiam verdadeiramente penhorar as próprias vidas em função de uma causa. Genérico como exemplar de ação, apoiado na qualidade de Jason Statham nesta seara, é um filme repleto de truques e efeitos especiais, mas carente, sobremaneira, de instrumentos que o façam transcender suas diversas inconsistências. Transições trôpegas igualmente fazem parte desse pacote que, verdade seja dita, tenta capitalizar a partir do culto propiciado pela saga Sharknado, telefilmes que, de tão aberta e deliberadamente ruins, chegam a divertir.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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