Crítica
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Sinopse
Crítica
Não é por acaso que o diretor Richard Tanne investe significativamente nas dinâmicas familiares, na construção das intimidades, no começo de Michelle e Obama. Diante de dois personagens hoje tão importantes no cenário mundial – afinal de contas estamos falando do primeiro presidente negro dos Estados Unidos e de sua ativa esposa –, não lhe interessam os bastidores do poder, mas os laços estabelecidos antes de qualquer implicação política de fato. Paralelamente, Michelle (Tika Sumpter) e Barack (Parker Sawyers) se arrumam para seu primeiro encontro, durante a interação trivial com pais e avós que os chamam por apelidos reservados aos mais chegados. Na verdade, apenas ele encara o programa como uma possibilidade amorosa, já que ela insiste em deixar clara a falta de interesse em se relacionar com um colega de trabalho. Veremos ao longo do filme, Barack é um homem persistente, que não desiste, tampouco diante da firmeza com que Michelle defende seu ponto de vista.
O principal ingrediente de Michelle e Obama é realmente o romance. Contudo, as muitas andanças do casal proporcionam observações interessantes acerca da situação social norte-americana no fim dos anos 80, principalmente no que tange à posição desfavorecida do negro numa coletividade que preserva traços racistas. Sem fazer alarde, emoldurando tudo com uma trilha sonora constante e amena, feita para reforçar as sensações oriundas da dramaturgia, Richard Tanne expõe as preocupações do então jovem estudante de Harvard com os que sofrem à margem. O grande acerto do longa-metragem está em resvalar nas questões com potencial reflexivo, sem com isso prejudicar sua vocação principal, o envolvimento deflagrado na aproximação íntima dos protagonistas. Isso fica bem exemplificado na sequência da visitação a um museu com obras que retratam situações muitos próximas do cotidiano deles, seja efetivamente ou no plano simbólico, no delineamento do afro-americano enquanto ideia.
Torcemos para que Barack consiga transpor a barreira erigida por Michelle para se proteger das investidas, mas entendemos perfeitamente a refração quando ela fala sobre o papel da mulher (negra) no ambiente corporativo, mencionando os cuidados necessários diariamente para não ser reduzida a um estereótipo. Parker Sawyers também tem seu momento para brilhar, na cena do discurso numa comunidade que precisa exatamente de palavras encorajadoras para lutar contra sistemas viciados de administração. Aliás, a capacidade oratória de ambos é bastante valorizada. Em meio a desentendimentos ocasionais, às conversas cada vez mais pessoais, às passagens que inevitavelmente estabelecem uma ponte imaginária entre passado e presente, são justamente esses instantes de persuasão, seja para convencer o outro da fragilidade de determinado argumento, aconselhar mudanças na seara particular ou explanar a plateias ávidas por vozes representativas, que se voa momentaneamente para além do flerte.
Neste bom filme, Barack Obama é visto como alguém tão obstinado quanto charmoso, atributos pelos quais Michelle vai cedendo. Richard Tanne consegue a proeza de abordar figuras proeminentes do nosso tempo, mantendo em voga discussões que concernem aos lugares do negro nos Estados Unidos, sem necessariamente fazer disso uma bandeira ou sacrificar o potencial emocional do filme. O diretor reveste esses personagens com diversas camadas de esperança, fazendo das posturas deles um prenúncio de renovação. Os desempenhos de Tika Sumpter e Parker Sawyers são decisivos para criarmos empatia por Michelle e Barack. Jovens, idealistas, ameaçados de achatamento pelos ditames dos mercados que moem sonhos em prol da lucratividade, eles são o símbolo de um bem-vindo progressismo. Esse traço surge substancialmente da maneira como ambos absorvem as problemáticas do entorno, participando ativamente de processos macroestruturais, mesmo diante do amor novo.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 6 |
Marcio Sallem | 6 |
Alysson Oliveira | 6 |
MÉDIA | 6 |
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