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Sinopse

Joaquín é um cadeirante que vive em uma casa que passou por tempos melhores. Certo dia, Berta, que trabalha como stripper, e sua filha, Betty, vão atrás de um anúncio feito por ele para alugarem um quarto. Durante uma noite de trabalho em seu sótão, onde conserta computadores, ele escuta através da parede que um grupo de ladrões está construindo um túnel que passa por baixo da sua casa para roubar um banco nas proximidades.

Crítica

Rodrigo Grande recém completou 40 anos e é um dos novos talentos do cinema argentino. Em seu filme mais consagrado até então, Cuestión de Principios (2009), ele colocou Pablo Echarri e Federico Luppi como dois homens lutando contra seus ideias no ambiente de trabalho. Agora, em No Fim do Túnel, ele traz novamente os astros em cena, porém deixa de lado o tom fabular para assumir-se como um filme de gênero, em que todos os arquétipos necessários estão presentes. Porém tanto Luppi (em participação especial) quanto Echarri (como o antagonista) desta vez são obrigados a abrir espaço para uma interpretação hipnotizante de Leonardo Sbaraglia, talvez o mais internacional dos atores argentinos de sua geração (após Ricardo Darín, é claro).

Sbaraglia, que já havia enfrentado o veterano Luppi no thriller Sin Retorno (2010) e sido amante de Echarri em Plata Quemada (2000), aqui aparece como Joaquín, um homem que acredita ter perdido tudo – e, de fato, mais nada lhe resta, nem mesmo as próprias pernas. Entrevado em uma cadeira de rodas, passa seus dias no porão da grande casa onde mora, consertando computadores como ofício. Isso até aparecerem Berta (Clara Lago, de Mãos que Curam, 2010) e Betty (Uma Salduende), mãe e filha em busca de um lugar para ficarem. Elas ocupam o andar de cima do sobrado, espaço que ele havia colocado para alugar há tanto tempo que nem mais lembrava. As duas, portanto, o forçarão a sair de um estado de reclusão voluntário, cuja única companhia é o cachorro já moribundo, do qual não tem mais esperanças – no momento em que elas chegam, para se ter uma ideia, ele está injetando venenos em bolachas de chocolate, como se uma morte doce pudesse ser menos sofrida.

Aos poucos, sem pressa nem atropelamentos, Grande vai dispondo os personagens desse xadrez. No centro do tabuleiro temos esse homem inválido, recluso e, aparentemente, inofensivo. Com ele se posicionam essa mulher, uma dançarina de strip tease que se diz sem rumo, e uma garota não muda, mas que se recusa a falar. Quando descobrimos, no fundo do quintal, um carro todo amassado abandonado, brinquedos infantis espalhados e sem uso e, dentro da casa, um quarto de criança trancado e intocado, as peças do quebra-cabeça parecem se encaixar. Mas essa é só uma primeira impressão. Há mais por trás, pois obviamente o diretor e roteirista não está disposto a revelar todos os seus segredos de mão beijada.

A situação se complica quando, na quietude do seu trabalho, Joaquin escuta murmúrios do outro lado da parede. Na casa vizinha, com a tecnologia que tem a seu dispor, logo descobre estar instalado um grupo de pilantras liderados por Galereto (Echarri). O objetivo deles? Cavar um túnel que passe por baixo da casa de Joaquín e vá até o banco da esquina, de cujo cofre poderão aplicar o golpe perfeito, em plena noite de Natal. Neste momento, os questionamentos se multiplicam. Qual a relação entre os bandidos da casa ao lado e sua nova inquilina? Por que a menina se nega a abrir a boca? Como o comissário de polícia Guttman (Luppi) foi se envolver em toda essa sujeira? E o que um cadeirante desiludido com a própria vida pode fazer frente a inimigos tão poderosos?

Cineasta em início de carreira – este é o seu terceiro longa-metragem – porém já dono de uma visão clara a respeito da necessidade de unir um material de qualidade, porém com viés comercial, Rodrigo Grande não busca reinventar a roda em No Fim do Túnel. Por outro lado, se concentra em dominar as ferramentas de linguagem que tem ao seu alcance. As ligações entre cada um destes tipos, suas segundas – e até terceiras – intenções, as reviravoltas de última hora e até mesmo aquela semente, plantada lá no começo, que irá voltar no momento certo para entregar um desfecho à altura das expectativas. Uma das regras clássicas de um bom roteiro é que, se uma arma de fogo aparece em cena, um tiro com ela deverá ser dado até o final da história. Aqui, armadilhas igualmente letais estão espalhadas por todo o desenrolar da trama. O interessante, portanto, não é desviar delas, mas descobrir como cada um irá agir após acioná-las, independente do lado da tela em que se encontre.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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