Crítica
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Sinopse
Crítica
Há praticamente dois filmes distintos em O Advogado, sucesso retumbante nos cinemas sul-coreanos. O inaugural dá conta de deflagrar a trajetória curiosa de Song (Kang-ho Song), advogado da cidade de Busan que recorrentemente sofre discriminação por parte de seus colegas, pois ingressou na profissão sem diploma de ensino superior. O enfoque principal aqui é justamente a apresentação da construção de uma carreira bem-sucedida. Ressalta-se o tino do protagonista para os negócios e sua perspicácia de atender demandas consideradas menores por seus pares. O roteiro delineia essa ascensão de maneira simples, mostrando o crescimento do escritório de advocacia, montado com a ajuda de um empréstimo, e a consequente mudança de vida do sujeito. Se aposta muitas vezes no lado sentimental, com sequências familiares e a posterior ligação com a dona de restaurante caloteada por Song no passado. Em meio a isso, surge, tímida, a exposição da alienação política, algo, no entanto, essencial.
Baseado em fatos, O Advogado transcorre no fim dos anos 70. Para contextualizar ainda mais o êxito de Song, o cineasta Woo-seok Yang lança mão de um flashback que remonta à pobreza dele, à sua necessidade de fugir das dívidas pela falta de dinheiro. A exposição de sua visão de mundo, alheia à efervescência que então tomava conta do país, é a chave para o “segundo filme”, no qual o tom e os temas passam a ser diferentes. Num percurso claramente de redenção, já que o triunfo sobre a desconfiança da classe tornou-lhe um tanto arrogante, ele assume um caso emblemático de violação dos direitos humanos. O filho da anteriormente mencionada proprietária de restaurante é preso ao participar de um clube de leitura, acusado de celebrar literatura subversiva e, em última instância, de ser comunista. Daí em diante, o longa-metragem descamba à esfera jurídico-social, delimitando-se às sessões no tribunal e aos bastidores do julgamento em que Song precisa ser competente para a justiça prevalecer.
A sensível ruptura proporcionada pela transição não ecoa de maneira orgânica. Tampouco esse solavanco narrativo oferece possibilidades expressivas suficientes para justificar-se. Prevalece a constatação de que, supostamente, o mais importante em O Advogado é o caminho de transformação pelo qual a consciência do protagonista passa. De uma hora para outra, testemunhamos sua abnegação, o empenho à causa dos encarcerados injustamente e o sacrifício, inclusive, de grandes oportunidades profissionais, como a defesa dos interesses de uma construtora. Woo-seok Yang transita pelas sendas da celebração, fazendo de Song, primeiro, o que merece admiração pela tenacidade de enfrentar um mercado competitivo e restrito a fim de vencer na vida e, segundo, alguém efetivamente preocupado com a aplicação da lei, e mais, disposto a penhorar a própria segurança em função da verdade. Nesse sentido, suas contradições e falhas são interlúdios sem espessura dramática fortemente determinante.
Não há uma comunicação eloquente entre as abordagens de O Advogado. A compartimentação não permite às partes oxigenarem-se mutuamente, do que decorre a sensação incômoda de estarmos diante de um longa-metragem demasiadamente fracionado. A falta de energia nas cenas de tribunal também depõe contra o andamento da trama. A opção pela amplitude, assim prescindindo de um recorte mais incisivo, também é uma das fragilidades desta realização sul-coreana apenas competente no que tange à apresentação da história, mas banal em suas tentativas de, a partir dos exemplos, constituir um painel de certo instante da história da Coréia do Sul. Há, ainda, a reverberação da cena final, com o causídico sendo julgado a partir de sua nova postura enquanto cidadão, na qual fica evidente ser o reconhecimento da classe sua verdadeira satisfação, o que chega a enfraquecer a militância vista antes. O filme explora superficialmente esse personagem tão cheio de possibilidades.
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