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Crítica


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Sinopse

Elizondo, Espanha. A inspetora Amaia Salazar é obrigada a retornar à sua cidade-natal para investigar uma série de misteriosos assassinatos que têm ocorrido ao longo dos anos, sempre envolvendo adolescentes abandonas nuas e com o cabelo penteado. Em meio às investigações, ela precisa lidar ainda com a má recepção de sua irmã Flora, que não a perdoa por ter deixado a família quando jovem para estudar nos Estados Unidos.

Crítica

É interessante notar como, ao se falar em cinema europeu, de imediato vem em mente realizadores autorais, como Truffaut, Almodóvar, Lars von Trier, os irmãos Dardenne e tantos outros. No imaginário cinéfilo coletivo, a produção do Velho Continente quase sempre é associada ao circuito de arte, por mais que, lá como cá, também se produza filmes de perfil claramente comercial. É o caso de O Guardião Invisível, primeira adaptação da trilogia Baztán para o cinema, numa jogada tão comum à indústria hollywoodiana.

Nesta competente abertura, o diretor Fernando González Molina dá especial atenção a estabelecer as bases do que virá a seguir. Uma delas é a cidade de Elizondo, situada ao norte da Espanha, que se torna personagem ao emprestar sua arquitetura tão peculiar (e bela) ao lado da cultura e mitologia basca, que surgem de relance nesta típica história de investigação. Aqui a tarefa de elucidar o(s) crime(s) está a cargo de Amaia Salazar, cria natal que há muito deixou a cidade para estudar fora. O pulo do gato da trilogia escrita por Dolores Redondo é justamente este: mesclar investigações com a vida pessoal de sua protagonista. Ao menos neste filme, funciona.

Funciona porque a narrativa flui sem pressa, dando o tempo necessário para se estabelecer a devida ambientação, tanto em relação aos crimes quanto ao próprio núcleo familiar. A fotografia, sempre soturna e em tons azulados, traz ao filme o clima gélido representado também na recepção que Amaia tem de sua própria família. A transição entre tais subtramas surge sem sobressaltos e de forma orgânica, por mais que vez ou outra surjam inserções que remetam não ao que acontece neste filme, mas ao próximo, Legado nos Ossos (2019). Este é o custo de uma produção intercalada como esta, apenas ao se completar o trio de filmes se terá acesso à história completa. Faz parte da proposta.

Ainda assim, tais inserções não chegam a atrapalhar o filme, por mais que indiquem questões que, intencionalmente, ficam sem resposta. Em parte porque o desmembramento pessoal desta narrativa auxilia a própria resolução dos assassinatos cometidos, em uma junção bem conduzida. Justamente o oposto do que será visto na sequência, quando acontecimentos e reviravoltas são empilhadas a esmo, sem muito capricho em seu desenvolvimento. Ao menos aqui Molina fez o dever de casa a contento, auxiliado também pelo roteiro de Luiso Berdejo, que soube evitar excessos.

Soma-se ainda a interpretação convincente de Marta Etura como a inspetora Amaia, ao mesmo tempo séria mas sem descambar para o brilhantismo histriônico de um novo Sherlock Holmes. Chama a atenção o fato de que as pessoas ao redor estão mais incomodadas com o retorno de Amaia do que propriamente ela em estar de volta à sua cidade-natal, característica que explica muito sobre a personagem. Apenas quando a subtrama de sua mãe é desvendada é que pode-se notar algum descontrole, bem justificado a partir das tensas cenas em flashback.

Com uma produção cuidadosa, O Guardião Invisível é um suspense que conecta com propriedade ambientação com uma pitada de misticismo, bem dosado de forma a dar um molho sombrio em torno da história. Como curiosidade, há a breve participação de dois integrantes da trupe de La Casa de Papel (2017-), Miguel Herrán e Paco Tous, para sempre eternizados como seus personagens na série.

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Jornalista e crítico de cinema. Fundador e editor-chefe do AdoroCinema por 19 anos, integrante da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro), autor de textos nos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros", "Documentário Brasileiro - 100 Filmes Essenciais", "Animação Brasileira - 100 Filmes Essenciais" e "Curta Brasileiro - 100 Filmes Essenciais". Situado em Lisboa, é editor em Portugal do Papo de Cinema.
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