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Crítica


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Sinopse

Alemanha, Segunda Guerra Mundial. O menino Bruno, de 8 anos, é filho de um oficial nazista que assume um cargo importante em um campo de concentração. Sem saber realmente o que seu pai faz, ele deixa Berlim e se muda com ele e a mãe para uma área isolada, onde não há muito o que fazer para uma criança com a idade dele. Os problemas começam quando ele decide explorar o local e acaba conhecendo Shmuel, um garoto de idade parecida, que vive usando um pijama listrado e está sempre do outro lado de uma cerca eletrificada. A amizade cresce entre os dois e Bruno passa, cada vez mais, a visitá-lo, tornando essa relação mais perigosa do que eles imaginam.

Crítica

Assuntos absurdamente sérios não deveriam ser tratados de forma leviana. E os males provocados pela ascensão ao poder de Adolf Hitler na Alemanha nos anos 30 e 40, certamente se enquadram nesta categoria. E é justamente por isso que filmes como O Menino do Pijama Listrado devem ser evitados: por tentar transformar algo tão terrível num tema leve e pueril. Assim como o equivocadamente oscarizado A Vida é Bela (1997), outro péssimo exemplo do mesmo caso, o enredo tenta observar a tragédia da Segunda Guerra Mundial através de olhos infantis, minimizando seus efeitos e consequências. Porém, diferente do longa italiano citado, ao menos no momento da conclusão eles parecem ter se dado conta da grandiosidade do tema que estavam abordando, partindo para um final ousado, mesmo que desconexo com o resto do discurso até então adotado.

O nazismo, que nunca abandonou realmente o cinema norte-americano, aparentemente voltou com força nos últimos tempos. Filmes como esse e o recente Um Homem Bom (2008), além do novo trabalho de Tom Cruise, Operação Valquíria (2008), resgataram estas lembranças para as massas. Porém, além disso, outra coisa em comum que possuem entre si é a péssima recepção que tiveram, tanto junto ao público quanto com a crítica. São obras revisionistas, que propõem uma nova abordagem sobre um evento há muito explorado. O que aconteceu foi horrível, sim, e não há como “dourar a pílula”. Tudo que puder ser feito para impedir uma repetição dos fatos deve ser incentivada, obviamente, mas nunca desprezando o respeito e a inteligência do espectador.

Pois é justamente isso que O Menino do Pijama Listrado defende: uma nova verdade sobre o ocorrido, de que as ações do governo nazista eram basicamente propaganda para ludibriar o povo, e que este em sua quase totalidade pouco tinha consciência do que de fato acontecia nos bastidores. Ou seja, com exceção dos oficiais militares, todos eram mais ou menos como o protagonista da trama, uma criança que é levada a morar no interior e, pela própria solidão, acaba se aproximando de um garoto que usa um pijama listrado durante o dia e que mora numa fazenda vizinha. O que o menino não sabe é que, na verdade, o novo amigo é um prisioneiro judeu, encarcerado num campo de concentração e prestes a ser assassinado. E a ignorância e covardia que o personagem principal demonstra nada mais é do que uma tentativa de justificar o que, segundo o diretor e roteirista Mark Herman (inacreditavelmente o mesmo do ótimo Laura: A Voz de um Estrela, 1998), assim como John Boyne, autor do livro em que a história se baseia, se passava por todo aquele país na época. É quase como se dissessem: “sim, o que aconteceu foi horrível, mas foi obra de dois ou três malucos, não de toda uma nação”. E nada mais certo do que a própria História para contradizê-los.

Escolhido como Melhor Filme segundo o júri popular no Festival de Chicago e indicado em três categorias no British Independent Film Awards – Vera Farmiga ganhou como Melhor Atriz – é uma daquelas produções que pode facilmente enganar sua audiência, bastando para que isso aconteça que ela se deixe levar pelo que está sendo narrado, sem raciocinar muito sobre o que é dito nas entrelinhas. Mas qualquer um que parar por um instante e ligar alguns pontos mais óbvios perceberá que nem a reviravolta trágica final é suficiente para apagar um texto confuso e carente de uma maior precisão histórica. Melodramático, clichê e previsível, o longa acaba se posicionando não mais do que como um mero artigo publicitário, assim como aqueles que Hitler difundia e que aqui são pretensamente criticados. Uma triste ironia.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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