Crítica
Leitores
Sinopse
Crítica
Berço de produções ousadas e cativantes, a animação japonesa nos últimos anos tem passado por uma certa transformação, capitaneada pelo diretor Makoto Shinkai. Você talvez não o conheça porque seus filmes mais recentes não chegaram aos cinemas brasileiros, mas, em seu país-natal, eles são um tremendo sucesso de bilheteria. Não por acaso, tanto Your Name (2016) quanto este O Tempo Com Você seguem a mesma fórmula narrativa: a adoção de um romance adolescente exacerbado em um contexto fantástico. Se antes era através de viagens no tempo, agora é na relação com a natureza.
O curioso é que o início de O Tempo Com Você não aponta para nenhuma das duas características que tanto o norteiam. Ao acompanhar o jovem Hodaka, que acaba de chegar a Tóquio, existe uma breve peregrinação em busca da sobrevivência em um ambiente desconhecido e hostil, ainda mais para quem vem de uma cidade bem menor. A fome e a violência latente são urgências que o rondam e, ao mesmo tempo, ancoram o filme em uma realidade próxima. Mesmo quando encontra abrigo em uma revista sobre ocultismo, o interesse está mais na picaretagem que é a publicação e, de relance, na atração física sentida pela secretária. É apenas quando Hina entra em cena que a trama, aos poucos, dá tal guinada.
Bebendo da fonte de vários filmes produzidos pelo Studio Ghibli, O Tempo Com Você investe nos mistérios decorrentes da relação com o homem e a natureza, a partir da existência de uma garota que consegue fazer chover, sempre que quiser. De olho no possível retorno financeiro de tais poderes, Hodaka logo cria um negócio para faturar, alto, sem imaginar que o excesso traria, também, consequências. É aí que tudo desanda.
Enquanto investe no fantástico de forma lúdica, O Tempo Com Você mantém uma leveza típica das aventuras juvenis, com suas descobertas intrínsecas. Chama a atenção o tom sempre pudico que o filme assume, seja no absoluto nervosismo ao visitar a casa de uma garota pela primeira vez ou até em uma certa auto-reprimenda em relação à atração sexual. Esta é outra característica da nova animação japonesa pregada por Shinkai: os relacionamentos precisam ser intensos e ultraromânticos, mas nunca concretizados. O apaixonar-se e fazer de tudo pelo amado(a) é muito mais importante que ter a paixão realizada.
É quando tal jornada apaixonada tem início que O Tempo Com Você mergulha fundo em uma espiral de exageros sem fim, repleta de clichês embalados a uma trilha sonora cheia de canções pop que irrompem de forma repentina e brusca. Tudo para conquistar seu público alvo, adolescentes que acreditam piamente que pelo amor tudo é possível. Simples assim.
Bastante piegas, O Tempo Com Você é um filme novelesco que se traveste de fantástico para vender o romantismo a todo custo. Por mais que até possua uma animação de qualidade, especialmente no toque computadorizado ao retratar o impacto das gotas de chuva no solo, tal condução narrativa leva o filme a um cansaço extremo, devido aos muitos exageros e estereótipos que surgem em seu terço final. Infelizmente, tais características têm se tornado marca registrada do diretor.
Filme visto no Festival do Rio, em dezembro de 2019.
Últimos artigos deFrancisco Russo (Ver Tudo)
- Uma História de Família - 28 de outubro de 2021
- A Verdade - 3 de setembro de 2021
- Loucura do Tempo - 6 de abril de 2021
Faltou também os resultados de bilheteria que foram destaques importantes na indústria.
Boa crítica e bem observados os aspectos narrativos e estruturais da história, contudo a falta de perspectiva cultural do contexto Japonês explícitos no filme deixam uma visão muito ocidentalizada e um pouco empobrecida. Gostaria de ouvir mais sobre os aspectos técnicos quanto a acuidade visual que é característica deste diretor e sua cinemática que parece em constante evolução em suas obras. Pelo menos ofereceu uma das poucas criticas da obra neste mercado. Obrigado.