O Último Metrô
Crítica
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Sinopse
Paris, 1942. Com a cidade ocupada pelos nazistas, o judeu Lucas Steiner é impossibilitado de continuar a comandar o Theatre Montmartre. Sua esposa, Marion, assume a direção e contrata Bernard Granger para estrelar uma nova peça. Enquanto a química entre os dois aumenta, Lucas trabalha no porão do teatro.
Crítica
Ambientado na Paris de 1942, tempos de ocupação nazista na França, O Último Metrô é um filme que diverge bastante das primeiras realizações de François Truffaut. Se no começo de sua carreira o francês ajudou a criar as bases da nouvelle vague com filmagens em locações naturais, entre outros elementos utilizados para privilegiar a espontaneidade da encenação, aqui ele se vale da gravação em estúdio. Nada de mal até aí, nem tampouco estranho, uma vez que Truffaut era admirador confesso do cinema americano, sobretudo daquele surgido na era de ouro dos grandes estúdios, cujo princípio era justamente evitar cenários naturais. Podemos entender, então, que tal expediente, certamente não uma novidade para Truffaut, trazia algum resquício de sua paixão cinéfila.
A trama de O Último Metrô se passa quase toda no Teatro Montmartre, estabelecimento administrado por Marion Steiner (Catherine Deneuve) depois que seu marido, o grande diretor Lucas Steiner (Heinz Bennent), precisou fugir da França por conta de sua origem judaica. Em meio a isso, uma nova peça começa a ser ensaiada e Bernard Granger (Gérard Depardieu) é contratado como protagonista. Há uma contextualização frágil da tensão que a França vivia por conta da então ocupação nazista, com menções esparsas às restrições impostas aos judeus. Isso só se modifica um pouco quando descobrimos que Lucas na verdade não escapou e se esconde no porão do teatro. Mesmo assim, a maneira escolhida por Truffaut para desenvolver o roteiro, focando nos ensaios e na interferência do diretor que apenas os escuta, não traz qualquer peso à questão do flagelo judeu.
Se cambaleante no quesito contexto histórico, talvez por dar espaço insuficiente a ele, O Último Metrô não se sai lá muito melhor na dinâmica que entrelaça os personagens, aliás, nem mesmo na própria construção dos personagens. Marion, por exemplo, é uma mulher devotada ao marido, o que não a impossibilita de ter casos. Contudo, isso não se instaura como contradição, nem mesmo possui qualquer relevância, provavelmente porque nela (Marion) se sobressai uma frieza que, como efeito colateral, torna iniciativas demasiadamente nebulosas. Bernard, por sua vez, é um mulherengo de quem pouco se sabe, a não ser que possui grande talento e que provavelmente faz parte de uma célula revolucionária. Aliás, há muitos “provavelmente” no filme, excessivos pontos contraproducentes de incertezas, o que não ajuda no desenvolvimento que, dessa maneira, acaba morno no mais das vezes.
Estar muito aquém das realizações pregressas de Truffaut não faz, porém, de O Último Metrô um filme enfadonho ou algo que o valha. Apenas é difícil transpor suas mais de duas horas sem acusar um artificialismo exagerado, sem lamentar que certos desdobramentos sejam tão tortos e mal conduzidos. O amor repentino surgido entre Marion e Bernard não convence, já que não há qualquer indício mais forte que o justifique à margem do que ela sente (será que ainda sente?) pelo marido enclausurado no porão. Truffaut não exibe a habilidade costumeira para costurar as relações, nem para extrair delas beleza e amargura, como bem fez em outras vezes. O resultado é um filme quase estéril, no qual as emoções são tão falsas quanto a paixão do crítico colaboracionista pelo teatro.
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