Crítica
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Sinopse
Henry sonhou desde cedo com a entrada na vida de gângster. Ao crescer, ele mergulha num mundo de criminalidade, mas acaba se tornando alvo de agentes federais que não descansarão até implica-lo em algo.
Crítica
Em 1990, quando o mundo já havia visto clássicos do cinema de máfia como O Poderoso Chefão (1972), Scarface (1983), Era Uma Vez na América (1984) e Os Intocáveis (1987), Martin Scorsese reforça seu perfil de cineasta autoral ao vasculhar os diversos níveis do crime organizado norte-americano, inserindo o eletrizante Os Bons Companheiros entre os melhores títulos do mob movie. No longa, o diretor expõe a vida conturbada de Henry Hill (Ray Liotta), um jovem estudante seduzido pelos costumes de descendentes de italianos às voltas com golpes de todo tipo. Inserido em uma sociedade que identifica vencedores por meio do faturamento pessoal, Henry larga a escola iludido pelo dinheiro fácil oriundo de pequenos delitos cometidos a mando do chefão Paulie (Paul Sorvino).
Eficiente, esforçado e obediente, Henry escala a hierarquia do submundo com rapidez e segurança, protegido pelos líderes Jimmy (Robert De Niro) e Tommy (Joe Pesci), dois mafiosos perigosos e violentos sempre a um passo da barbárie desenfreada. Apesar da tensão que envolve a maior parte das cenas da dupla, Jimmy e Tommy também pendem para a comédia de ocasião, sendo responsáveis pelo humor negro que marca momentos críticos da trama. Henry sempre foi visto pela cúpula do crime como o futuro da organização, seguindo com confiança em direção ao topo até colocar tudo em jogo ao traficar armas e drogas. Neste novo contexto, ruim para o perfil tradicional dos negócios de Paulie, o prodígio passa a comprometer a fraternidade, atraindo para cima de todos a mira das autoridades e provocando seu afastamento compulsório da equipe.
Boa parte de Os Bons Companheiros é narrada pelo protagonista, que durante o filme desenvolve uma relação conflituosa, mas fiel, com Karen (Lorraine Bracco), mulher dividida entre a fortaleza de sua própria personalidade e a fragilidade originária do amor por Henry. Aos poucos, Karen ganha peso na trama, passando a narrar a história com posicionamento crítico em um belo movimento orquestrado pelo roteiro de Scorsese e Nicholas Pileggi. Outros recursos narrativos (hoje datados, porém ainda marcantes) são os close ups congelados, para delimitar a tomada de consciência ou a conclusão de alguma ideia por parte dos personagens, além dos discursos do protagonista endereçados diretamente ao público/câmera. Técnicas semelhantes são utilizadas em Cassino (1995) e atualizadas em O Lobo de Wall Street (2013), obras que igualmente tratam sobre os tentáculos do crime organizado.
Ao final de Os Bons Companheiros, Henry é penalizado pelos comparsas, mas obtém perdão judicial, fim semelhante aos de Sam (De Niro) em Cassino e de Jordan (Leonardo DiCaprio) em O Lobo... – posicionamento que rendeu a Scorsese recentes críticas relativas a uma suposta condescendência com (ou glamorização de) criminosos. A possível apologia ao crime varia conforme a leitura do espectador, porém é certo que em Os Bons Companheiros o cineasta apresenta um retrato nítido sobre os labirintos hierárquicos do crime, as condutas excessivas de seus integrantes e as penas violentas que líderes brutais aplicam contra quem desvia de caminhos pré-definidos.
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