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Sinopse

Uma família tradicional pensa estar aproveitando uma noite normal de férias em um trailer. De repente, recebem a terrível visita de três psicopatas. O único objetivo desses desconhecidos é transformar as vidas dos moradores num inferno.

Crítica

Por quê você está fazendo isso?”, fala a vítima, em desespero, para a assassina que a persegue com uma faca em punho. “Por que não?”, responde a outra, demonstrando uma total ausência de sentimentos em relação à morte que irá causar a seguir. Tamanho desprezo pelos atos cometidos também pode ser aplicado a esse Os Estranhos: Caçada Noturna. Afinal, qual a razão de se fazer uma sequência para Os Estranhos (2008), longa de terror lançado há exatamente uma década e que particularmente não marcou ninguém, nem público (apesar do relativo sucesso de bilheteria, tendo arrecadado no mundo todo quase dez vezes o valor do seu orçamento) ou crítica (ainda que tenha recebido prêmios e indicações em festivais e premiações voltadas ao cinema fantástico e de horror, recebeu apenas 45% de avaliações positivas no Rotten Tomatoes). E a conclusão é apenas uma: “por que não?”.

Cindy (Christina Hendricks, como sempre voluptuosa demais para ser ‘apenas’ uma dona de casa) e Mike (Martin Henderson, que ainda que esteja envelhecendo bem, possui uma voz fraca, o que contribui para o clima de insegurança necessário à trama) são pais de dois adolescentes. E se com o garoto tudo parece estar correndo bem, a menina tem se revelado fonte de maiores problemas nos últimos tempos. Mas isso, é claro, são apenas desculpas que tomamos conhecimento pelas entrelinhas dos seus diálogos e que visam reuni-los para um fim de semana em família no camping afastado dirigido por um parente mais velho. E é claro que as demais exigências da cartilha do gênero também se fazem presente: ao chegarem lá, a impressão é de encontrarem um lugar abandonado – está tudo muito calmo e vazio. O que não sabem, no entanto, é que o trio de assassinos sem rosto já está em ação por ali.

Aliás, esta é a primeira cena do filme: no meio da noite, o casal de idosos que comanda o acampamento é desperto pela intrusão de um dos ‘estranhos’, que termina por assassiná-los sem dó, nem piedade. Johannes Roberts, diretor do recente Medo Profundo (2017), ao menos aqui não tem muito o que inventar, e ao se contentar em apenas fazer o básico, atinge melhores resultados. Estamos falando de um filme assumidamente de gênero, cuja única preocupação é provocar mortes das formas mais gráficas possíveis, com muitos litros de sangue e nos lugares mais inesperados. Sustos não são, necessariamente, uma exigência, ainda que, quando surgem, revelam-se fonte poderosa de comoção. Os acontecimentos não chegam a ser exagerados a ponto de não serem levados a sério, ou mesmo sutis à beira da irrelevância. O perigo está ali, próximo, e os cerca. Resta descobrir quem irá chegar vivo ao final.

No entanto, pelo próprio formato assumido, as surpresas são logo descartadas. Com as mortes dos proprietários, resta apenas a família – aparentemente – indefesa. Pai e mãe, filho e filha. Quatro pessoas, destinadas a morrer na mesma noite – ou não. Ao contrário de Os Estranhos, em que o casal vivido por Liv Tyler e Scott Speedman tentava a todo custo revidar, descobrir o que estava acontecendo e buscar uma maneira de sair daquela situação vivo, em Caçada Noturna essa dinâmica é substituída para, literalmente, um jogo de gato-e-rato – a sequência na piscina é particularmente interessante. São três assassinos contra quatro vítimas em potencial. Os números não são tão desequilibrados. E que vença – ou sobreviva – o(s) melhor(es).

Ainda que Christina Hendricks e Martin Henderson sejam os nomes de maior destaque do elenco, quem acaba mesmo chamando a atenção são os jovens Lewis Pullman (A Guerra dos Sexos, 2017) e, principalmente, Bailee Madison (Não Tenha Medo do Escuro, 2010). De estrela infantil, ela agora já é quase adulta (está com 18 anos) e segura bem os momentos mais tensos, equilibrando nervosismo com domínio do que é preciso ser feito. E se os três mascarados, que cometem suas barbáries com rostos de bebês, permanecem como incógnitas, eles ao menos cumprem suas funções de impor medo e pavor por trás de semblantes assustadoramente infantis. E é justamente essa a proposta de Os Estranhos: Caçada Noturna: entreter os afeitos dessa linha de narrativa enquanto dura a ação, ao mesmo tempo em que não propõe concessões ou diminui seus riscos em busca de uma maior audiência. O que se vende é exatamente o que é entregue: e este é justamente o seu maior mérito.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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