Sinopse
Patrick, mais conhecido como Po, é uma criança com traços de autismo que sofre com o recente falecimento da mãe. Esta situação faz com que ele constantemente mergulhe em um mundo imaginário, onde é apenas um garoto sem preocupações rodeado por amigos. Quem tenta ajudá-lo a superar este momento é seu pai, David, que precisa se dividir entre a criação do filho e o trabalho, extremamente exigente.
Crítica
Ainda que o filme se chame Um Garoto Chamado Po (no original), ou apenas Po, como ficou no Brasil, o verdadeiro protagonista do longa do diretor John Asher é o pai do menino, David, interpretado por Christopher Gorham. Um dos coadjuvantes mais confiáveis da televisão norte-americana, já tendo aparecido em séries tão diversas como Party of Five (1997-1998), Felicity (2001-2002), Ugly Betty (2006-2010) e 2 Broke Girls (2017), Gorham recebe aqui uma rara oportunidade no cinema de aparecer à frente do elenco, responsabilidade que cumpre à altura do que lhe é exigido. Os problemas, portanto, estão mais no olhar subestimado do realizador, que afirma ter feito o filme como “uma carta de amor ao próprio filho”, mas, no entanto, dá a entender estar muito mais preocupado em falar de si mesmo.
David Wilson (Gorham) é um engenheiro de aviões que está enfrentando um momento difícil, tanto em casa quanto no trabalho. Recém viúvo, após uma longa batalha contra o câncer perdida pela esposa, ele precisa descobrir como lidar com o único filho, portador de autismo, e também com a pressão no trabalho, onde estão à espera de um novo modelo, conforme ele havia prometido há um bom tempo. A crise profissional, no entanto, parece servir apenas para modular o comportamento do homem com a criança: sem paciência, desorientado, incapaz de atender às necessidades de um menino nessa condição. Todo o enfoque dado a questão, que vai desde reuniões na empresa, debates com o colega mais próximo e mesmo momentos de concentração em cima da mesa de desenho, parecem tão superficiais e fugazes que chega a ser difícil se importar quando o pior – e inevitável – termina por acontecer.
Po, vivido pelo surpreendente Julian Feder (O Salsicha Campeão, 2013), no entanto, vive em um mundo completamente particular. Vítima frequente de bullying na escola – o pai insiste em tratá-lo como uma criança normal, recusando-se a inscrevê-lo em uma instituição para jovens especiais – ele tem apenas uma amiga, Amelia Carr (Caitlin Carmichael, de A Vida em Si, 2018) e hábitos bastante arraigados: sua única refeição é um prato de macarrão com queijo, seus horários de sono são completamente irregulares e a atenção que dedica aos informes econômicos e ao movimentos das bolsas de valores não poderão passar desapercebidos, obviamente. David tenta, do jeito dele, conciliar as duas coisas – trabalho e família. Mas logo irá perceber que, sozinho, não conseguirá desempenhar nenhuma das duas funções a contento.
É quando entra em cena a instrutora Amy (Kaitlin Doubleday, de Prenda-me Se For Capaz, 2002), que não apenas se afeiçoa pelo garoto, como também pelo pai dele. O flerte vira namoro, e quando um lado parece se ajeitar, a corda do outro estoura, provocando um efeito avalanche que colocará tudo quase a perder. Po e o pai não poderão mais ficar juntos. O Estado interfere, e não há mais o que fazer. Ou mais ou menos isso. Afinal, estamos diante de uma história de sonho e superação, e o final feliz não tardará a se manifestar. Só que não será o adulto que, por si só, conseguirá encontrar o caminho certo para recolocar tudo no lugar. Po, mesmo vivendo no limite entre a fantasia e a realidade, é que terá que decidir em dar o passo sem retorno, ou permanecer próximo àqueles que dele tanto necessitam.
Poé um filme bonito, fácil de acompanhar, e talvez mais simples ainda de ser esquecido. Não há nada particularmente marcante em sua trama, e ao discorrer sobre um assunto já explorado em produções tão superiores, como o oscarizado Rain Man (1988), ou séries recentes, como The Good Doctor (2017) ou Atypical (2017), ele próprio se coloca em uma desvantagem que dificilmente será superada. John Asher dirigiu o filme por uma razão muito pessoal, e o mesmo se justifica pelos envolvimentos de Christopher Gorham ou o compositor Burt Bacharah (vencedor de 3 Oscars), ambos também pais de filhos identificados pelas mesmas condições. Ou seja, fica claro que o objetivo maior deles era expiar suas próprias experiências. Para eles, portanto, é bem provável que o resultado tenha justificado tamanho esforço. Para todos os demais que não compartilham da mesma sina, no entanto, o envolvimento será bem mais questionável.
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