Crítica
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Sinopse
Com ideais de esquerda num país em plena convulsão política, o diretor Marcelo Pedroso decide fazer um documentário no Batalhão de Choque da Polícia Militar de Pernambuco. Trata-se da unidade policial treinada para lidar com multidões, atuando na repressão dos chamados distúrbios civis – categoria que inclui protestos e manifestações. Enquanto acompanha algumas operações de rotina e treinamentos no batalhão, ele passa a sentir na pele os efeitos da aproximação.
Crítica
No auge dos protestos estudantis de 1968, o cineasta Pier Paolo Pasolini publicou um poema, num jornal italiano de grande circulação, que criticava os estudantes por terem batido nos policiais, já que estes, sim, eram filhos do proletariado, enquanto os reivindicantes representavam a burguesia. Obviamente causou polêmica. A situação no Brasil, porém, é bastante distinta, porque os homens e mulheres encarregados de “garantir a ordem”, também geralmente oriundos das classes C e D, acabam entrando em confronto, no mais das vezes, com sua própria gente, o que deflagra a perversidade do sistema vigente. Ao diretor Marcelo Pedroso, no entanto, essa questão de estrato social parece não importar muito. Seu documentário Por Trás da Linha de Escudos possui intenções claras. O problema, ou o maior entre alguns, é justamente a ausência de uma linha mestra, pois os vieses possíveis, pela forma dele se colocar enquanto realizador, acabam se canibalizando e se banalizando de todo.
Primeiro de tudo, Marcelo se posiciona na tela como um personagem imprescindível. Ele se propõe a investigar o cotidiano do Batalhão de Polícia de Choque do Recife. Os instantes iniciais são puramente de aproximação, com o processo lento e gradual de conquista de confiança sendo valorizado enquanto substrato do que vem a seguir. O realizador faz questão de aparecer nas bordas do quadro ou dar relevo à sua voz nos momentos em que questiona os policiais acerca de protocolos, especialmente, para o controle e a dispersão de manifestações públicas. O seu “pulo do gato” é dizer que esteve ao lado dos populares no movimento conhecido como Ocupe Estelita, episódio de grande repercussão social, inclusive marcado pela forte repressão do Estado. O desconforto do servidor público deparado com essa informação não é suficiente para justificar a provocação, porque ela é utilizada de maneira tortuosa, com certo acanho. Por Trás da Linha de Escudos não deixa claro a que veio.
Marcelo Pedroso até tenta mostrar a diferença das abordagens policiais, sobretudo no que tange às recentes tensões urbanas em resposta ao cenário político. Ele coloca, lado a lado, imagens de adeptos do impeachment da presidenta Dilma Rousseff tirando fotos com o efetivo, num clima de festa, e dos contrários ao golpe em andamento sendo espancados. A intenção de desnudar a discrepância de tratamento é louvável. Infelizmente o mesmo não pode ser dito do artifício pueril, enfraquecido ainda mais pela necessidade do diretor literalmente focar-se perplexo, conferindo a si o posto de símbolo da indignação de uma parcela dos cidadãos. Por Trás da Linha de Escudos envereda, logo depois, por uma sucessão fatigante de exposições de rotinas e procedimentos, como a ação do Batalhão numa instituição para menores, as aulas com um instrutor ou até a desnecessariamente extensa vivência com os policiais no campo de treinamento para resistência ao gás lacrimogêneo.
Por Trás da Linha de Escudos ensaia um estudo a propósito desse efetivo que bate em estudantes e trabalhadores nas ruas, defendendo os interesses do Estado, porém sem tocar profundamente as contradições, valendo-se de um olhar ora deslumbrado, ora artificialmente preparado para o confronto. Cenas excelentes como a da militar, feliz da vida, falando sobre o amor pela profissão, mostrando fotos postadas nas mídias sociais dela vomitando com os colegas após uma prova, são raras no documentário, instantes de exceção. Marcelo Pedroso deixa ainda mais exposta a fragilidade conceitual do filme quando incorre em dramatizações que beiram o ridículo, com gente se protegendo atrás de escudos feitos com partes da bandeira nacional, ou ao forçar exercícios de compreensão entre um sujeito atacado e o Batalhão que ameaçou sua integridade física. Manifestantes vestindo roupas do choque e homens da lei fazendo ioga configuram uma forma canhestra e ingênua de gerar empatia mútua.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 3 |
Alysson Oliveira | 3 |
Ailton Monteiro | 4 |
Daniel Oliveira | 3 |
MÉDIA | 3.3 |
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