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Sinopse

Um projecionista de filmes aposentado se esforça para evitar que seu cinema seja demolido. Mesmo que o estabelecimento tenha fãs e frequentadores, as grandes corporações não tem a mesma empatia.

Crítica

Bollywood está na vitrine, mas a Índia é muito mais que cores vivas e coreografias grandiosas. Num país que produz e consome o próprio cinema em escala industrial, dedicar-se a temáticas e estéticas ditas fora dos padrões é um desafio. Talvez por isso um filme sobre um apaixonado pela Sétima Arte e seus rituais seja apresentado como algo insólito no cinema indiano. Projecionista, dirigido por Kaushik Ganguly, é um embate entre passado e futuro, em que um trabalhador, já afastado de seu ofício, batalha para o cinema não fechar as portas, mesmo que a chegada de equipamentos digitais ameace as esperanças de seguir exibindo filmes em película. Suas tardes e noites são dedicadas a relembrar os bons tempos da sala de exibição junto com um amigo. Os goles de bebida são entremeados por citações cinematográficas. Durante as manhãs, ele vende peixes no mercado local. Nem só de 24 quadros por segundo vive o homem, afinal.

Em paralelo com os saudosistas devaneios cinéfilos , Projecionista apresenta o filho do protagonista como uma espécie de vilão. Prestes a se tornar pai, ele encontra na venda de DVDs piratas um negócio lucrativo, para desgosto do genitor sempre persistente na tradição do filme exibido na sala escura, em grandes rolos. Enquanto um não perde edições dos jornais para saber se algum cinema fechou as portas, o outro estuda anúncios em busca de um projetor digital. O que parece ser uma sequência do cinema como trabalho dentro da família vira uma guerra. Velada, mas uma guerra, intensificada quando o filho começa a lucrar com sessões em feiras.

O discurso contra o conservadorismo do pai vai por água abaixo numa das cenas mais bonitas do longa. Curioso para saber como foi a primeira sessão organizada pelo filho, o velho projecionista vislumbra a “sala de cinema” improvisada no meio de um parque de diversões e descobre que, mesmo só pensando no lucro, de certa forma, o filho mantém viva sua profissão. Extremamente preocupado com a narrativa, apesar de um que outro arroubo poético, Projecionista é um filme sobre a difícil luta para manter vivo o cinema em película, ainda mais quando os filmes não significam apenas entretenimento em nossas vidas.

Valendo-se do fantástico, o diretor mostra que algumas pessoas não saberão viver em tempos digitais. O fato da esposa do filho estar grávida também é simbólico. Novas vidas irão crescer com a película sendo peça de museu. Há esperança? Sim, pois boas histórias independem do formato.

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é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands.
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