Crítica
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Sinopse
Luiz Martins de Souza Dantas era o embaixador do Brasil na Itália até 1922, quando foi transferido para Paris. Cercado de belas moças, o homem viveu um cotidiano de luxo em reuniões que incluíam pessoas da política e da cultura do país. Nesse contexto, começa a Segunda Guerra Mundial e o embaixador passa a viver numa realidade intensa com tomada de decisões que realmente podem colocar vidas em risco.
Crítica
Embora definido comercialmente como documentário, Querido Embaixador, a julgar pela natureza da maioria das cenas vitais, surge como uma ficção atravessada por diversos excertos documentais, prioritariamente “cabeças falantes” que depõem sobre a atuação humanitária de Luiz Martins de Souza Dantas. O então embaixador do Brasil na França foi responsável por salvar centenas de judeus da sanha assassina do nazismo ao conceder vistos diplomáticos para cidadãos comuns, contrariando as ordens que vinham do Brasil. O paralelo com Oskar Schindler, o empresário alemão retratado em A Lista de Schindler (1993), é óbvio. Pena que, diferentemente dele, Souza Dantas passe longe de ter nas telonas algo que minimamente faça jus à sua biografia louvável. Dirigido por Luiz Fernando Goulart, o filme carece de consistência em quase todas as searas, a começar pela trôpega justaposição dos registros que não oferece solidez narrativa de qualquer natureza, deixando muito a desejar no que tange à maneira de entremear as informações e, em semelhante medida, a condição de reprodução.
Ficção e documentário se intercalam para, simplesmente, contar uma história, sem modulações emocionais ou algo que as valha. Essa uniformidade é fruto de uma encenação absolutamente engessada, que, por exemplo, deixa pouco espaço aos intérpretes para sobrepujar as camadas mais óbvias e superficiais. Norival Rizzo vive um embaixador monocórdico, sempre ostentando sorrisos, retratado como um homem essencialmente bondoso e bem intencionado. O roteiro demonstra indecisão entre observar aspectos da vida pessoal do diplomata, como o relacionamento com uma atriz francesa bem mais jovem, e sua rotina na repartição que adiante sofreu as sanções da efervescência geopolítica decorrente da violência de Adolph Hitler e seus asseclas. O filme parece feito de retalhos de um teleteatro, com cenários semelhantes a ambientes de um museu, sem que a direção de arte se esforce o suficiente para conceder vida aos espaços. Quanto aos testemunhos, a maior parte deles é de sobreviventes ou descendentes, pouco acrescentando dados, basicamente reiterando-se.
Querido Embaixador deixa exposto o elenco, primeiro, por conferir aos seus membros papeis rasos, com falas telegráficas. Felipe Rocha, que vive o secretário da embaixada, Martins Leta, é o que chega mais perto de subverter as fragilidades diretivas, aproximando-se voluntariamente de um registro caricatural. Seu personagem representa toda sorte de brasileiros que estavam ao lado do Eixo, perpetuando ideais xenófobos, antissemitas, entre outras modalidades de discriminação. As demais pessoas em cena são limitadas pelo conjunto totalmente burocrático. Nem a morte da atriz por quem Souza Dantas era apaixonado repercute de maneira orgânica, sentida rapidamente, logo depois obliterada. Segundo, pois não há tempo, tampouco território, ao amadurecimento dos conflitos e infortúnios, isso valendo, também, para as breves vitórias. A guerra aproximando-se, a diplomacia pressionada, pessoas morrendo, nada disso tem peso dramático. Gradativamente, o longa-metragem se torna bastante refém da própria inabilidade, caindo logo na banalidade.
No que diz respeito à celebração, Querido Embaixador atinge, quando muito, resultados simplórios, sendo o mais sobressalente deles a menção de uma figura historicamente importante por sua contribuição humanitária. Como documento, a realização de Luiz Fernando Goulart é ingênua, sobretudo pela forma como encadeia os fatos comentados pelos remanescentes e o material de arquivo. Na condição de ficção, é pueril, pois não consegue estabelecer vínculos verossímeis entre os personagens e o espectador. A sensação é de estar diante de figuras estáticas que entoam um texto decorado, por certo, mas parcamente trabalhado, como se dizer fosse o bastante. Passagens importantes da história de Luiz Martins de Souza Dantas são abordadas rapidamente, sem impacto ou a ressonância devida. Para um filme que fala das barbáries do Terceiro Reich, valendo-se de um contraponto tão significativo, falta essência e uma direção comprometida com o humano em discussão. O anacronismo não está apenas no fato de todos falarem português, até mesmo na França.
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