Crítica
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Sinopse
Em 1994, em Miami, um grupo de personal trainers se envolve numa série de crimes cujas consequências são nefastas.
Crítica
O que esperar de um filme que começa com o anúncio “baseado em fatos reais”? Uma trama curiosa, ao menos. Porém, quando o que presenciamos na tela são tantos absurdos, nada mais justo que o diretor, lá pelas tantas, reprise o aviso com um “esta ainda é uma história real”. Pois Sem Dor Sem Ganho foi o modo que Michael Bay encontrou para se desintoxicar após a milionária trilogia Transformers: fazer um filme menor, com um pé mais firme na realidade, porém ainda assim megalomaníaco e inacreditável. A diferença é que dessa vez esses exageros estão nas mentes e nas personalidades dos seus personagens, e não em alienígenas robóticos vindos do espaço. E, por mais inacreditável que isso possa parecer, o resultado é melhor do que o esperado.
Daniel Lugo, Adrian Doorbal e Paul Doyle são retratos perfeitos do atual desvirtuamento do aclamado “sonho americano”. Fisiculturistas, ratos de academia, viciados em malhação, são capazes de declarar “acredito no fitness” antes mesmo da pátria, família ou amor. E à medida que vão construindo seus corpos, numa ambição desmedida que só tende a deixá-los cada vez maiores, suas vontades por uma vida proporcional ao tamanho de seus egos e suas frustrações pela realidade que o rodeiam só tendem a aumentar na mesma progressão dos músculos dos seus bíceps.
Os três são pessoas rasas e infelizes, que nunca estão satisfeitas, acreditando que o universo gira em torno do ínfimo mundinho que habitam. Todas as referências que possuem são oriundas da cultura pop mais descartável e instantânea, como o cinema e a música. Esse retrato é muito bem descrito, seja pela fotografia invasiva, estourada e colorida, pela direção de arte que oferece um olhar crível e saturado de quase vinte anos atrás (período em que a história de fato ocorreu) ou pela trilha sonora, que tem a mesma pegada acessível e contagiante do relato em desenvolvimento.
O problema dos três é não desconfiar que há muito mais em jogo do que aquilo que conseguem vislumbrar em seus limitados horizontes. Portanto, pensam que um sequestro mal planejado pode ser a solução de todos os seus problemas. Daniel, líder do grupo, é personal trainer e decide que um dos seus alunos abastados é a vítima perfeita. As coisas, evidentemente, não sairão como o planejado, e os erros iniciais logo irão aumentando como uma bola de neve, deixando o quadro geral cada vez pior. A estupidez dos protagonistas é tamanha que se tivesse sido inventada por um roteirista nunca seria crível. É por isso que se faz necessário os lembretes que nos remetem à origem dos fatos. Se a ficção precisa ser verossímil, a realidade não possui o mesmo compromisso.
Muito do sucesso de Sem Dor Sem Ganho está na escolha do elenco. Mark Wahlberg mergulha no personagem com afinco, criando um Daniel Lugo carismático e igualmente demente, lembrando os melhores momentos de Channing Tatum. Dwayne Johnson havia demonstrado talento cômico em títulos como Be Cool (2005) e Agente 86 (2008), e aqui seu tamanho está de acordo com os desajustes que protagoniza – a perseguição do dedo no fundo do mar (só vendo para crer) é tão estapafúrdia que é impossível não sorrir de espanto! E Anthony Mackie, geralmente visto em tipos dramáticos como em Guerra ao Terror (2008), revela uma faceta próxima à de Will Smith, oferecendo nuances a um tipo que nas mãos de alguém menos talentoso certamente seria eclipsado pelos colegas gigantes. Além deles, participações de nomes como Tony Shalhoub, Ed Harris, Rob Corddry, Ken Jeong, Rebel Wilson e Peter Stormare oferecem um charme ainda mais diferenciado ao projeto.
Sem Dor Sem Ganho poderia ter resultado em algo insuportável, e para isso não seria preciso muito – bastaria que Michael Bay fosse, mais uma vez... Michael Bay! No entanto o diretor consegue conter seus virtuosismos tão característicos, reconhecendo que o material que tinha em mãos possuía elementos atrativos o suficiente para falarem por si. Em valores ajustados, talvez esse seja o seu filme mais barato (custou US$ 26 milhões) e de menor retorno nas bilheterias (faturou menos de US$ 50 milhões – muito longe dos US$ 1,1 bilhão arrecadados no mundo todo por Transformers 3, 2011). Mas, ao fazer uso de uma ironia quase irreconhecível, Bay estimula não somente uma autorreflexão, mas também a capacidade de rirmos das nossas próprias futilidades e irrelevâncias. Coisa que, como bem se sabe, não é algo que os norte-americanos estejam acostumados a fazer.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 6 |
Marcio Sallem | 8 |
Alysson Oliveira | 7 |
Ailton Monteiro | 7 |
MÉDIA | 7 |
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