Crítica

O título original de Sem Proteção (2012), The Company You Keep, faz referência a um ditado popular conhecido no Brasil como “diga-me com quem andas e eu te direi quem és”. Em seu nono filme como diretor, Robert Redford escalou um time impressionante de atores que inclui, além dele próprio como protagonista, Shia LaBeouf, Julie Christie, Sam Elliott, Brendan Gleeson, Terrence Howard, Richard Jenkins, Anna Kendrick, Brit Marling, Stanley Tucci, Nick Nolte, Chris Cooper e Susan Sarandon. As companhias de Redford são obviamente excelentes, porém, contrariando a expressão, não são suficientes para tornar sua obra relevante ou garantir a profundidade necessária para que a mesma não seja apenas entretenimento eficaz.

Baseado em livro escrito por Neil Gordon, Sem Proteção tem uma premissa interessante, que se desenvolve ao redor de um grupo de ex-militantes da organização esquerdista Weather Underground e suas vidas cotidianas no tempo presente. Após uma série de imagens de arquivo, que abrem o filme de maneira bastante convencional, Sharon Solartz (Sarandon) é presa e acusada por um crime que cometeu nos anos 1970. Preocupado em ser o próximo na lista do FBI e cercado por um inconveniente jornalista (LaBeouf), Jim Grant (Redford) corre – literalmente – atrás de uma saída para provar sua inocência.

Conduzido pela trilha climática de Cliff Martinez, Sem Proteção é literatura transformada em cinema sem muita cautela, na mesma linha de algumas adaptações de John Grisham, como O Júri (2003). O excesso de personagens secundários, que entram e saem da trama por conveniência do roteiro, as relações rasas entre os mesmos e muitos segredos oportunamente revelados funcionam melhor em 300 páginas do que em 120 minutos de cinema. É inegável que a narrativa seja instigante, porém as resoluções convencionais e o encerramento do filme, um tanto quanto redentor, não demonstram a maturidade de Redford no posto de diretor.

O melhor de Sem Proteção está mesmo com seu grande e estrelado elenco, que entrega ótimas performances – ainda que por vezes pequenas – de grandes nomes do cinema estadunidense. As duas principais sequências de Susan Sarandon são muito bonitas e apresentam as mais inspiradas falas do roteiro de Lem Dobbs. Julie Christie, que negou o convite de Redford para participar do longa durante dois meses, também se destaca em meio a um elenco que dificilmente seria reunido, não fosse a influência de um dos maiores galãs – e cineastas mais engajados – que Hollywood já teve.

Com ecos de O Peso de um Passado (1988), Sem Proteção sofre por alguns dos mesmos problemas do drama de Sidney Lumet, seja em seu discurso idealista ou por conta do que parece imediatismo emocional. Redford demonstra interesse no obscuro da vida norte-americana, seus compromissos e conflitos, assim como seus confrontos e consequências. Ainda assim, a obra de Lumet foi produzida numa época em que sua temática era pungente e atual, enquanto Redford consegue sucesso apenas com uma óbvia crítica ao conformismo generalizado da população contemporânea com questões que deveriam ser de seu interesse comum.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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