Crítica
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Sinopse
Matheus e Japonês são dois jovens, não amigos, mas que se juntam para realizar uma série de sequestros na noite de São Paulo. A primeira vítima é Isabel, uma garota de 21 anos que está saindo de um bar. Os três estão nervosos. Quando encontram o primeiro caixa eletrônico, ele está quebrado. Os bandidos percebem que não conseguirão encontrar outro antes da manhã do dia seguinte. Mantendo-a refém, dirigem de um lado para o outro, decidindo o que fazer com ela.
Crítica
Baseado em uma história verídica, Sequestro Relâmpago é limitado pelas circunstâncias, uma vez que boa parte da trama se desenrola no interior do carro de Isabel (Marina Ruy Barbosa), vítima do crime que dá nome à produção. A tarimbada cineasta Tata Amaral supera tais restrições com a competência de sempre, investindo em alternâncias espaciais de posições que, muitas vezes, refletem as mudanças dos status dos personagens, com o mandachuva da vez sentando no banco da frente, por exemplo. As paradas estratégicas funcionam também nesse sentido de oxigenar a narrativa, seja nos momentos em que a jovem tenta escapar da situação ou quando os bandidos necessitam de algo pontualmente. Daniel Rocha interpreta o sujeito denominado Japonês, desde o princípio tido como uma figura irascível, cuja imprevisibilidade é um ingrediente e tanto para a construção da atmosfera de tensão. Já Sidney Santiago Kuanza é Matheus, que demonstra profissionalismo e um temperamento oposto ao do seu parceiro.
Feitas as considerações positivas, é bom ainda salientar que Sequestro Relâmpago funciona relativamente bem como thriller, embora gradativamente perca voltagem e se instaure numa região estagnada. Na medida em que a noite se arrasta, com os planos de Japonês e Matheus sendo consecutivamente frustrados, o longa-metragem ensaia contextualizar o episódio com apontamentos acerca da desigualdade social do Brasil. Todavia, a realizadora não é particularmente feliz nesse sentido, pois a retórica dos personagens, especialmente a de Isabel, beira a alienação misturada com o natural desespero, equação não relativizada e/ou observada com um viés crítico. Num instante específico de estresse, ela tenta emplacar um discurso de igualdade, como se, mesmo portadora de um veículo caro para os padrões da maioria, fosse equivalente aos empobrecidos que a acossam em busca de subsistência. Nem o confronto específico do sequestrador, que a questiona sobre viagens à Disney e quetais, dá conta de adensar esse viés.
Sequestro Relâmpago, portanto, vai enfileirando ocorrências potencialmente inquietas, tentando estofa-las com sinais maiores para a formação da violência. Indícios como a placa de “vende-se” no carro de Isabel, a casa depauperada da família tipicamente classe média, entre outras coisas, não são suficientes para fazer de sua conjuntura econômica equivalente à de Japonês e Matheus, sobretudo a do último, que chega a comprar fraldas para o filho em meio ao delito, numa cena destituída de pathos, bom dizer. É um tanto leviana essa tentativa de equiparar uma camada intermediária afetada diretamente pela crise financeira e a população periférica totalmente combalida por uma desassistência com causas e ramificações bem mais complexas. No que tange às atuações, destaca-se o trabalho do trio que precisa expressar um torvelinho de sensações mediadas pela urgência. Ainda que sua personagem permaneça, um bom tempo, embotada pelo choque, Marina Ruy Barbosa consegue desenvolver uma personalidade com camadas e bastante crível.
Contudo, Daniel Rocha e Sidney Santiago Kuanza sobressaem. O primeiro, como o homem inflamável, cuja criminalidade foi lhe passada simbolicamente enquanto carga hereditária. O segundo, como o ponderado que vai perdendo as estribeiras e revelando a sua natureza. Aliás, a alternância simbólica de posições entre eles auxilia sobremaneira a dinâmica de Sequestro Relâmpago, por lhe oferecer alternativas e evitar que o todo seja arrastado demasiadamente pela estagnação. Outo componente aguçado, porém pouco aproveitado, é o machismo vigente. Os olhares e as insinuações iniciais de Japonês são bem mais sutis e eficientes para denotar o adicional de medo sentido pela protagonista, em função do simples fato dela ser uma mulher acuada por dois homens, que a cena tortuosa de Isabel pedindo socorro a um segurança que desdenha dos apelos desesperados. Tata Amaral faz um filme apenas parcialmente bem-sucedido, que peca ao recorrer a elementos para lhe conferir substância, para além das boas sequências de ação e da dinâmica que une as figuras distintas.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 5 |
Chico Fireman | 5 |
Robledo Milani | 4 |
MÉDIA | 4.7 |
Queria saber se os pais morreram no final ...