Timbuktu
Crítica
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Sinopse
Nas dunas próximas à antiga cidade de Tumbuktu, Kidane (Ibrahum Ahmed aka Pino) vive pacificamente com sua esposa Satima (Toulou Kiki), sua filha Toya (Layla Walet Mohamed) e Issan (Mehdi ag Mohamed), seu pastor de doze anos. Na cidade, a comunidade sofre com o terror imposto pelos jihadistas que tomaram o lugar. Música, cigarro, futebol e até mesmo o riso alto foi banido. Kidane e sua família, por morarem afastados, são poupados dos absurdos impostos à comunidade pelo grupo terrorista, mas sua tranquilidade acaba quando um erro fatal é cometido.
Crítica
A intolerância religiosa chega com truculência a uma pequena vila do Mali. Mulheres são obrigadas a usar véus e luvas, enquanto futebol, música e cigarro ficam proibidos. Regras dos fundamentalistas islâmicos que pretensamente falam em nome de Alá. Nada está acima dos desígnios do Todo Poderoso, e os jihadistas acreditam realmente falar e agir por Ele. Em Timbuktu, parte-se dessa imposição violenta de crença. Muitos idiomas por lá circulam, os nativos, como o tuaregue e o bambara, e os estrangeiros, sobretudo o onipresente inglês e o colonizador francês. Contudo, a incompreensão linguística é o menor dos problemas, ainda que, neste caso, evidencie um território de tradição esfacelada por anos de intervenção.
Não há, no sentido clássico, um protagonista em Timbuktu, embora muitas coisas se passem em torno de Kidane (Ibrahim Ahmed dit Pino) e de sua família, com a qual mora no deserto, ainda sob o jugo das leis da cidade. Eles resistem, ao contrário dos vizinhos que fugiram em busca de lugares menos hostis para morar. Mesmo vivendo até certo ponto alheios ao que acontece na região central, não por falta de informação, mas por opção, eles sofrem com o novo regime após o patriarca cobrar, também na base da agressão, o pescador que matou uma de suas vacas. A barbárie do duelo, do choque seguido de morte, é registrada com uma beleza não alienada, justamente porque ela amplifica a dor dos acontecimentos.
Nesse cenário desolado, as mulheres padecem mais, seja pelas restrições de vestimenta ou por não terem voz nas tomadas de decisão. Por isso, natural que partam justamente dali as mais significativas resistências, como na cena em que uma delas, enquanto açoitada, canta para afrontar a violência com seu dom considerado sujo. Mas a insatisfação é generalizada, haja vista outra passagem cinematograficamente forte, em que garotos encenam uma partida de futebol sem bola, pois o esporte também é vetado. O cineasta malinês Abderrahmane Sissako, do excelente Bamako (2006), faz um cinema poroso, no qual as ideias preenchem lacunas com vagar e precisão. Não há imposição, mas tampouco tentativa de esconder-se atrás do falso véu da imparcialidade.
Pequenas transgressões e atos de rebeldia mostram esperança, mesmo frente à atrocidade dominante, responsável por sequências como as do casal, provavelmente adúltero, apedrejado até a morte para remissão do pecado. Timbuktu não oferece respostas prontas para o espectador mastigar o mínimo possível e engolir, porque está além dessa maneira recorrente de fazer cinema para consumo rápido. Seu percurso é poético, principalmente no que diz respeito ao visual, nos convidando à reflexão. Há particularidade apenas na bondade, já a maldade é indiscriminada, uma erva daninha sem forma definida que cresce vampirizando o espaço alheio. Sissako coaduna palavra, imagem e som, evitando a redundância, assim tornando a força de seu filme perceptível em diversos níveis e aspectos.
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Os meninos jogando futebol sem a bola porque o futebol é proibido é o cúmulo do absurdo