Crítica
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Sinopse
Dirceu é gaiteiro e sonha em viver da música. Mas, ao 17 anos ele fica paraplégico, situação que coloca outros empecilhos em seu caminho.
Crítica
De um lado, a situação inusitada de receber a encomenda de um filme por telefone. Do outro, a coragem e a convicção de assumir que a sua vida pode ser filmada. E foi. Ana Johann é cineasta em Curitiba. Dirceu é músico amador em São Bento, interior do Paraná. Eles não se conheciam e é possível que jamais cruzariam o caminho um do outro se não fosse pelo empenho do jovem em realizar um desejo. A proposta inicial era a de preparar uma ficção, mas o roteiro imaginado por Dirceu estava distante de ser tão interessante quanto a sua trajetória. Ao perceber esse detalhe, Ana fez a contraposta: realizariam um documentário. A partir de então, o que assistimos em Um filme para Dirceu é uma contribuição mútua, um projeto que se desenvolveu durante três anos de intenso convívio. Assim como o garoto dava a Ana a matéria que seria documentada, ela propiciava a ele a realização de um sonho.
O filme é o primeiro longa-metragem documental da diretora Ana Johann. Anteriormente, dirigiu e roteirizou dois curtas do mesmo gênero: De Tempos em Tempos (2007) e Abaixo do Céu (2010). Em seu novo trabalho, a intimidade com o gênero foi preservada, alterando-se apenas a duração. Em boa medida, o título encaminha uma explicação razoável sobre o projeto: o documentário nasceria como um filme para Dirceu. Isto seria o mínimo – e não pouco. A aposta estava em saber se o garoto que ficou paraplégico depois de batalhar pela carreira de músico se tornaria um personagem interessante. Se estivesse certa, então a intenção mínima poderia tomar proporções maiores. Hoje, depois da exibi-lo no 45º Festival de Brasília de Cinema Brasileiro em mostra competitiva, a diretora não deve ter dúvidas de como chegou longe.
Durante 80 minutos de câmera ligada, conhecemos Dirceu melhor do que muitas pessoas que nos são próximas. Participamos dos shows, acompanhamos os relacionamentos, o convívio com os amigos e com a família. Nada nos escapa. Talvez seja uma característica do caráter ou resultado da experiência pela qual passou, o importante é que a coragem de Dirceu está em confiar em nós, independente do julgamento que possa suscitar. Ana realizou o documentário porque rastreou na história do protagonista a natureza pura do gênero cinematográfico. As interferências técnicas são mínimas e inevitáveis. A montagem de Nathalia Okimoto, de ritmo irregular, nos entrega bons momentos diante do material captado.
Além da certeza do dever cumprido – afinal Dirceu agora tem um filme - permanece a certeza de que o documentário, infelizmente, não se sustenta como um longa-metragem. Falta-lhe um desenvolvimento robusto de narrativa, que por vezes naufraga em uma terrível trivialidade – como é a vida de qualquer um e que, portanto, não merece ser registrada. O drama do protagonista pode comover, mas não por tempo suficiente. Quem sabe quantas histórias iguais ou melhores a de Dirceu a cidade de São Bento não nos daria? A singularidade, por si só, nem sempre é suficiente.
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"Falta-lhe um desenvolvimento robusto de narrativa, que por vezes naufraga em uma terrível trivialidade – como é a vida de qualquer um e que, portanto, não merece ser registrada. O drama do protagonista pode comover, mas não por tempo suficiente. Quem sabe quantas histórias iguais ou melhores a de Dirceu a cidade de São Bento não nos daria?" Bem, meu primeiro ponto: quando o autor coloca que a narrativa do filme cai numa terrível trivialidade ("como é a vida de qualquer um, e que, portanto, não merece ser registrada"), fica minha pergunta: por que não merece ser registrada? Assisti "um filme para dirceu" no festival de cinema de brasília, e me impressionei justamente com a trivialidade, com o que me pareceu totalmente sincero, sem nenhuma afetação da pessoa em questão, ou seja, o Dirceu, que não é um personagem, é uma pessoa real. Achei o filme interessante não por pretender contar a história de um grande artista, idealizado, um fetiche, mas por mostrar uma pessoa comum, que não deixa de ser um artista. Nesse sentido, discordo quando você coloca que essa longa duração do filme, por sofrer de uma carência de narrativa, supostamente acaba tornando o filme menos interessante (que é quando você coloca que "o drama do protagonista pode comover, mas não por muito tempo"). Eu, particularmente, não fiquei entediada, pelo contrário. Mas entendo alguns pontos colocados pela crítica, e concordo que de certo modo o longa sofre de uma falta de narrativa. Ele parece mais um emaranhado de cenas comuns do dia-a-dia do Dirceu. Sendo isso proposital ou não, agradável ou não à nós espectadores, o fato é que talvez tenha se ajustado bem às condições: é um registro "bruto", com cenas "brutas", de uma vida "bruta" (digo bruto no sentido de ser sincero. Não é pra ser chocante, ou visualmente belo, ou mostrar algo totalmente original, é só pra mostrar o cotidiano, também sem afetação cinematográfica). Eu sei que a grande atração do cinema é contar algo supostamente inusitado, mas então por que as nossas salas de cinema no Brasil, por exemplo, só exibem os "mesmos filmes" (estrangeiros, com narrativas quase sempre muito similares - que inclusive é um tipo de narrativa que nós no cinema brasileiro também adotamos - que contam histórias de ação, de terror, enfim, coisas que nos cansamos de ver)? Haha, eu sei que parece exagerado, mas lembro de um comentário que fazem muito por aqui "tem que romper radicalmente a mise-en-scene!!", haha, eu particularmente nem sei o que poderia ser romper radicalmente a mise-en-scene, mas sei que a partir dessas discussões que tive por aí, começar a filmar o cotidiano, de modo as vezes quase enfadonho, tem sido explorado por aí, a um tempo já. Mas o que eu acho radical é a atitude de filmar algo tão comum, com cenas tão comuns, sem ser pretensioso. É diferente de um Andy warhol, por exemplo, que força a barra pra mostrar algo "comum" (um cara comendo um sanduíche, um cara dormindo). Não é comum, é pretendido. Não assisti aos dois curtas anteriores da diretora e não estou familiarizada com a obra dela. Talvez assistindo tudo seja mais fácil identificar esses elementos colocados pela crítica (ao que me pareceu, é como se o filme tivesse ficado "preso à linguagem" dos dois curtas anteriores, sem desenvolvimento de linguagem de longa-mentragem, que é mesmo diferente). Enfim, é isso. Abraço. Marisa